"Senhor, tua Palavra é luz no meu caminho e lâmpada para os meus pés! Creio que por meio da tua Palavra o Universo se formou; Creio que por meio da Tua Palavra a terra se firmou; Creio que Tua Palavra, o Verbo Eterno, se encarnou em nosso meio: Jesus, és a Palavra Viva de Deus Pai, Palavra que permanece viva em nosso meio, e continua a ser inspirada e renovada pelo Santo Espírito. Tudo pode passar, as ervas podem secar, as folhas podem cair, o céu e a terra passar, mas, tua Palavra meu Deus, jamais passará. E enquanto eu viver quero emprestar minha voz a Ti para que continueis falando ao coração dos homens e mulheres deste tempo! Fala-me Senhor, fala em mim Senhor, fala por mim Senhor!"

domingo, 14 de março de 2010

Estudo sobre a Didaché: Parte IV: Verdadeiros e falsos pregadores (Cap. 11 a 15)


C.    Terceira Parte: Verdadeiros e falsos pregadores.
(Capítulos 11 a 15)




A terceira parte da Didaché constitui disposições à respeito da vida comunitária, dedicando especial atenção a hospitalidade e o discernimento dos verdadeiros pregadores, como deve ser o culto dominical, e por último a vivência e organização da comunidade.

1. Verdadeiros e falsos pregadores
 11,1Se alguém vier até vocês ensinando tudo o que foi dito antes, deve ser acolhido. 2Mas se aquele que ensina for perverso e expuser outra doutrina para destruir, não lhe dêem atenção. Contudo, se ele ensina para estabelecer a justiça e o conhecimento do Senhor, vocês devem acolhê-lo como se fosse o Senhor. 3Quantos apóstolos e profetas, procederam conforme o principio do Evangelho. 4Todo apóstolo que vem até vocês seja recebido como o Senhor. 5Ele não deverá ficar mais que um dia ou, se for necessário, mais outro. Se ficar por três dias, é um falso profeta. 6Ao partir, o apóstolo não deve levar nada, a não ser o pão necessário até o lugar em que for parar. Se pedir dinheiro, é um falso profeta. 7Não coloquem à prova nem julguem um profeta que em tudo fala sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas esse não será perdoado. 8Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. É assim que vocês reconhecerão o falso e o verdadeiro profeta. 9Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa, não deve comer dela. Caso contrário, trata-se de um falso profeta. 10Todo profeta que ensina a verdade, mas não pratica o que ensina, é um falso profeta. 11Todo profeta comprovado e verdadeiro, que age pelo mistério terreno da Igreja, mas não ensina a fazer como ele faz, não será julgado por vocês. Ele será julgado por Deus. Assim também fizeram os antigos profetas. 12Se alguém disser sob inspiração: “Dê-me dinheiro” ou qualquer outra coisa, não o escutem. Contudo, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue”. (Didaché, 11,1-12). (Cf. Mt 12,31)
            Segundo a Didaché, as primeiras comunidades conheciam os apóstolos, os profetas e os mestres. É difícil entendermos qual a diferença entre estes, pois a função ou o ministério de todos era o anúncio do Evangelho e o ensino, e muito menos saber se eles tinham alguma espécie de sacerdócio ou algum posto de liderança nas comunidades.
Vemos no texto a insistência na hospitalidade dos mesmos, o que indica que seu ministério não era fixo em determinadas comunidades, que eles o exercia de modo itinerante, visando diversas comunidades cristãs. Daqui a dificuldade em distinguir quem era o verdadeiro e o falso pregador ou profeta.
A Didaché define o falso pregador como aquele que explora a comunidade e não pratica o que ensina, e para reconhecer o verdadeiro pregador do Evangelho, a comunidade chegou a diversos critérios:
·         Ensinar a justiça e o conhecimento do Senhor;
·         Falar sob inspiração;
·         Viver como Senhor;
·         Praticar o que ensina;
Podemos nos perguntar: Porque tanta atenção com homens que passavam a vida viajando anunciando o Evangelho, se a comunidade já vivia de acordo com o Evangelho? O respeito das primeiras comunidades cristãs para com os pregadores é muito grande, porque dependiam dele para conhecer o Evangelho, visto que em sua maioria eram formadas por pessoas simples e sem muita instrução. O pregador através da sua palavra e vida, de certa forma era a personificação viva do Evangelho para os cristãos, pois os Evangelhos escritos, como nós os conhecemos hoje, circulavam somente nas comunidades onde nasceram e comunidades vizinhas.

2. Hospitalidade com discernimento
 12,1Acolham todo aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examinem para conhecê-lo, pois vocês te, juízo para distinguir a esquerda da direita. 2Se o hóspede estiver de passagem, dêem-lhe ajuda no que puderem; entretanto, ele não permanecerá com vocês, a não ser por dois dias, ou três, se for necessário. 3Se quiser estabelecer-se com vocês e tiver uma profissão, então trabalhe para se sustentar. 4Se ele, porém, não tiver profissão, procedam conforme a prudência, para que um cristão não viva ociosamente entre vocês. 5Se ele não quiser aceitar isso, é um comerciante de Cristo. Tenham cuidado com essa gente”. (Didaché 12,1-5).
            O espírito de vivência da comunidade cristã é o da fraternidade e da partilha, o que a faz sempre aberta para acolher os que necessitam de ajuda. Este trecho é uma reafirmação do que a Didaché menciona várias vezes, no tocante ao relacionamento com o próximo, quem quer que ele seja.
            No entanto, a comunidade deve sempre agir com discernimento, pois, a ocasião de ajuda, pode se tornar ocasião para que uns e outros “comerciantes de Cristo” aproveitem e explorem a boa vontade da comunidade e nem seja manipulada em favor de interesses alheios ao de Jesus Cristo e seu projeto. O alerta se define do seguinte modo: “Não basta ser bom: é preciso ser justo e ter muito bom-senso.

3. Sustentação do profeta
 13,1Todo verdadeiro profeta que queira estabelecer-se entre vocês é digno do seu alimento. 2Da mesma forma, também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como todo operário. 3Por isso, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê para os profetas, pois eles são os sumos sacerdotes de vocês. 4Se, porém, vocês não têm nenhum profeta, dêem aos pobres. 5Se você fizer pão, tome os primeiros e os dê conforme o preceito. 6Da mesma forma, ao abrir uma vasilha de vinho ou de óleo, tome a primeira parte e dê aos profetas. 7Tome uma parte do seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, e os dê conforme o preceito.” (Didaché 13,1-7).
            A nossa concepção em relação ao sustento dos nossos pastores é a mesma que as primeiras comunidades tinham em relação aos seus pregadores, profetas e mestres.
            Por empregar todo o seu tempo na evangelização, o pregador fica dependendo das comunidades por onde passa para sobreviver, daí o compromisso das mesmas comunidades em oferecer parte das coisas destinadas ao seu sustento àqueles que se dedicam totalmente ao anúncio da Palavra de Deus e do Cristo Jesus.
            O compromisso da comunidade vai muito além do sustento dos seus agentes, ela deve se empenhar ao máximo para que de fato as necessidades da evangelização sejam todas providas.
            Mais uma vez vemos presente na instrução dos apóstolos a lição da caridade: “Onde não tiver profetas, dêem aos pobres”.

4. A celebração dominical
 
“14,1Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro. 2Aquele que está de briga com seu companheiro, não poderá juntar-se a vocês antes de se ter reconciliado, para que o sacrifício que vocês oferecem não seja profanado. 3Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro, porque eu sou um grande rei, diz o Senhor, e o meu nome é admirável entre as nações”. (Didaché 14,1-3). (Cf. Mt 5,23-25; Ml 1,11-14)
            Outra reafirmação da Didaché, agora no que diz respeito à celebração da Eucaristia.
Para os primeiros cristãos, é na Eucaristia que se concretiza o espírito de fraternidade que rege a comunidade, pois ela por si só é celebração da fraternidade. A insistência na confissão dos pecados e na reconciliação é para que a Eucaristia não seja profanada no seu sentido mais profundo. Reconciliação que não deve ser só no momento do culto, mas, em toda vida, pois sem isto a Celebração dominical e a Eucaristia perdem o seu sentido: reunir os filhos de Deus, para o seu louvor.

5. A vivência comunitária
 15,1Escolham para vocês bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados, porque eles também exercem para vocês o ministério dos profetas e dos mestres. 2Não os desprezem, porque entre vocês eles têm a mesma dignidade que os profetas e mestres. 3Corrijam-se mutuamente, não com ódio, mas com paz, como vocês têm no Evangelho. E ninguém fale com nenhuma pessoa que tenha ofendido o próximo; que essa pessoa não escute nenhuma palavra de vocês, até que se tenha arrependido. 4Façam suas orações, esmolas e todas as ações, da forma que vocês têm no Evangelho de nosso Senhor”. (Didaché 15,1-4).

A)    Dois modelos de Igreja
A Igreja nascente viu-se diante de dois modelos de Igreja. A comunidade palestinense mais ligada à tradição, onde estavam presentes os apóstolos e os presbíteros; A Didaché lembra este modelo de Igreja. O segundo modelo de Igreja nasceu fora da Palestina e era voltado à missão e as necessidades que dela surgiam, tendo logo a necessidade de servidores para a comunidade, no caso os diáconos, e de supervisores para as diversas comunidades existentes, os bispos; ambos escolhidos de modo democrático, ou seja, pelo povo.
Os diáconos e bispos em geral eram homens sábios e conhecedores do Evangelho, porém, não se sabe dizer com precisão qual eram as suas funções nas comunidades.
A Tradição e missão são dois elementos presentes em toda comunidade cristã, independente do modelo que ela segue nos primeiros séculos do cristianismo, pois a tradição significa fidelidade ao compromisso com o projeto de Jesus, e a missão significa encarnar este projeto, a fim de responder os desafios de cada tempo e lugar. Ou seja, a comunidade precisa ter os olhos fixos no Evangelho e na Vida.

B)    Base da vida comunitária: Correção mútua, feita com espírito fraterno. Este constitui o esforço básico da comunidade, pois não é bom viver sozinho e não é fácil viver junto. A Didaché mostra que a comunidade deve levar a sério este preceito, e ser implacável, ao ponto de isolar completamente quem ofendeu o próximo, até que ele aprenda a necessidade da reconciliação;


Expressão da vida cristã: Sua finalidade é sempre o Evangelho de Cristo, e ela deve se exprimir por meio da oração (intimidade com Deus), da esmola (amor ao próximo) e da ação, colaborando para a transformação da sociedade pecadora na comunidade fraterna que Deus quer para seus filhos e filhas.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nuvem de Tags

Amizade (7) Ano novo (3) Artigos (20) Artur da Távola (1) Audio (1) Autores desconhecidos (1) Beatificação (1) Carlos Drumonnd de Andrade (1) Charles Caleb Colton (1) Colaboradores (2) Dalai Lama (1) Dennis Gabor (1) Devocional (10) Diacp. José da Cruz (5) Diário (1) Divulgação (1) Documentos da Igreja (2) Ella Wheeler Wilcox (1) Em defesa da vida (1) Estudo sobre a Didaché (6) Estudos e Catequeses (2) Eucaristia (1) Eventos (1) Família (2) Fé e Política (1) Fernando Pessoa (2) Fernando Sabino (1) Formação (21) Fotos (4) Gandhi (1) George Bernard Shaw (1) George Gracie (1) Gotas da Palavra (5) Gotas de sabedoria (50) Henry Thoreau (1) Heresia (2) Homenagem aos pais (1) Homilias (25) Icones (1) Ir. Inês (1) João Paulo II (3) Joseph Campbell (1) Liang Tzu (1) Liturgia (1) Luana Lua (1) Madre Teresa de Calcutá (1) Maria Paula Fraga (1) Mário Lago (1) Mário Quintana (1) Matrimônio (1) Música (30) Natal (7) Nossa Senhora (2) Nossa Senhora Aparecida (3) Nossa Senhora da Alegria (1) Oliver Wendell Holmes (1) Orações (10) Pablo Neruda (1) Palavra dos Santos (3) Paróquia Todos os Santos (1) Pe. Fábio de Melo (1) Pierre Schurmann (1) Pio XII (1) Poemas (6) Pregações (3) Refletindo com a Palavra de Deus (9) Reflexão (84) Reflexões Quaresmais (17) Renata Mangeon (1) Roberto Shinyashiki (1) Rodolfo Marinho de Sousa (1) Sabedoria dos Santos (10) Sacerdócio (2) Sacramentos (1) Sagrada Família (1) Saint Exupéry (1) Santa Emília de Rodat (2) Santa Faustina (1) Santa Teresa de Jesus (1) Santa Terezinha do Menino Jesus (2) Santo Agostinho (1) Santos (1) São Francisco de Assis (1) São João Maria Vianney (1) Sirlei L. Passolongo (1) Solidariedade (1) Tahyane Rangel (1) Testemunho (7) Vargas Vila (1) Versículos Eternos (1) Videos (49) Vinicius de Moraes (1) Vocação (2) Zeza Marqueti (1)