"Senhor, tua Palavra é luz no meu caminho e lâmpada para os meus pés! Creio que por meio da tua Palavra o Universo se formou; Creio que por meio da Tua Palavra a terra se firmou; Creio que Tua Palavra, o Verbo Eterno, se encarnou em nosso meio: Jesus, és a Palavra Viva de Deus Pai, Palavra que permanece viva em nosso meio, e continua a ser inspirada e renovada pelo Santo Espírito. Tudo pode passar, as ervas podem secar, as folhas podem cair, o céu e a terra passar, mas, tua Palavra meu Deus, jamais passará. E enquanto eu viver quero emprestar minha voz a Ti para que continueis falando ao coração dos homens e mulheres deste tempo! Fala-me Senhor, fala em mim Senhor, fala por mim Senhor!"

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O reconhecemos ao partir o Pão

1. “Eles reconheceram o Senhor ao partir o pão” (Cf. Lc 24,30-31). Esta afirmação que ouvimos no Evangelho aponta para nós algumas realidades:
·         A experiência do Ressuscitado da primeira comunidade cristã;
·         As refeições fraternas nas casas dos cristãos (Eucaristia);
·         O reconhecimento de Jesus como Senhor, que só “acontece” quando se percorre um caminho humano, que prevê alegrias e celebração, mas também o fracasso, a solidão, a busca pela justiça e verdade, a coerência em direção a um mundo melhor e a solidariedade (é esta a experiência que os discipulos de Emaús fazem na busca de respostas para os seus “porquês” e diante de toda angustia que estavam sentindo pelo ocorrido com Jesus);
É neste quadro que o Cristo, anônimo e misterioso, companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas daqueles discipulos, revela-se, não como alguém que tem resposta para todos os questionamentos, mas como alguém que aceitou entrar no plano de Deus, onde torna-se o primogênito, ou seja, o primeiro de uma nova humanidade, nascida do seu sacrifício redentor.
Ele se revela num gesto tão simples: no partir de um pão. Um pão que indica a sua Presença no meio de nós, a Eucaristia.

2. A Eucaristia é um rito, pelo qual reconhecemos o Senhor. Não é qualquer rito, mas o memorial da sua morte e ressurreição. Neste rito se revelam os acontecimentos históricos da vida de Jesus, de sua Igreja e de toda a humanidade. Neste rito se revela o plano de Deus na atualidade da nossa história. A Eucaristia que celebramos não é recordação, mas atualização da Páscoa do Senhor e da nossa Páscoa também, pois é anúncio de salvação.
Este rito que celebramos como memorial é composto de duas partes: Liturgia da Palavra e Liturgia da Eucaristia. Seguimos os moldes da catequese primitiva dos apóstolos (por exemplo, At 2,14-33 – O discurso depois de Pentecostes), que se apoiava no testemunho da Escritura para interpretar o Cristo e seu anúncio; também a nossa comunidade se reúne para ouvir a Palavra de Deus proclamada, e assim compreender a sua vida de hoje ao mesmo tempo em que antecipa, na esperança, a glória com Cristo. Depois se celebra a Eucaristia – O Deus que nos fala se doa no pão consagrado e partilhado.
É por isso que a Igreja nos ensina que “as duas partes que constituem a missa, isto é, a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística, são tão estreitamente unidas entre si que formam um só ato de culto” (SC 56). Ou seja, “só quem partilha a mesma história pode partilhar o mesmo pão que é memorial, presença e profecia do Senhor ressuscitado” (Missal Dominical, Paulus)

3. A Eucaristia conforme nos ensina a Igreja “é ápice e fonte de toda a vida cristã”. A comunidade cristã se reúne em torno dela, portanto em torno de uma pessoa, Jesus Ressuscitado, que, está presente na Eucaristia, força que une a comunidade, força que impulsiona o seu desenvolvimento. Nós ocupamos o lugar dos discipulos de Emaús, pois reconhecemos o Senhor no partir do pão.

4. Pedro nos apresenta em sua carta uma norma de vida que consiste no temor filial que se deve ter em relação a Deus. Esta norma de vida tem seu fundamento na fé no mistério de Cristo revelado nos últimos tempos. De fato, a revelação última de Jesus, depois de Pentecostes, acontece na Eucaristia, revelação que se renova a todo instante nos altares ao redor do mundo.
O Sangue de Jesus derramado na Cruz é o mesmo Sangue consagrado sobre o altar, este é o preço pago pelo nosso resgate e ao mesmo tempo fundamento da nossa esperança (Cf. I Pd 1,17-21). Sob o olhar do Apóstolo que nos explica o mistério pascal, apresentando-nos como motivo determinante de santidade e de vida, ele nos fala do resgate que Cristo nos faz, o que nos leva a compreendermos ainda mais a Eucaristia como fonte e ápice de toda vida cristã.
A Eucaristia nos leva a fazermos uma experiência de resgate de consciência. A consciência de termos sido resgatados da vergonha e da escravidão e do pecado mediante o sangue do Filho de Deus. Este argumento é forte e inevitavelmente leva os homens a amar o seu Salvador e a viver de tal modo que sua Paixão não tenha sido inútil. O Sangue de Jesus é precioso, é dom, é esperança de vida eterna.  

5. Sendo fonte de vida, a Eucaristia nos chama a viver uma dimensão social, este Senhor que é reconhecido ao partir do pão por aqueles que comungam, pede aos mesmos, que se comprometam a partilhar outro pão, o pão da justiça e da solidariedade, um pão de defesa para aqueles que têm o pão de cada dia roubado pelas injustiças dos homens e sistemas sociais exploradores. Se faltarmos com este compromisso a Eucaristia não tem sentido, deixa de ser revelação da Presença de Jesus e passa a ser apenas um fenômeno alienante que alimenta somente uma fé sem raízes e sem compromisso.
A este respeito nos diz São João Crisóstomo: "De que serve ornar de vasos de ouro a mesa do Cristo, se ele mesmo morre de fome? Começa por alimentá-lo quando está faminto, e então poderás decorar sua mesa com o supérfluo. Dize-me: se, vendo alguém privado do sustento indispensável, o deixasses em jejum e fosses enfeitar sua mesa com vasos de ouro, achas que ele te seria agradecido? Ou não ficaria indignado? Ou ainda, se vendo-o vestido de andrajos e trêmulo de frio, o deixasses sem roupa para erigir-lhe monumentos de ouro, pretendendo assim honrá-lo, não diria ele que estarias zombando dele com a mais refinada ironia? Confessa a ti mesmo que ages assim com o Cristo, quando ele é peregrino, estrangeiro e está sem abrigo, e tu, em lugar de recebê-lo, decoras os pavimentos, as paredes e os capitéis das colunas. Suspendes candelabros com correntes de prata, e quando ele está acorrentado, não vais consolá-lo. Não digo isto para reprovar esses ornamentos, mas afirmo que é necessário fazer uma coisa sem omitir a outra; ou melhor, que se deve começar por esta, isto é, por socorrer o pobre".

6. Por fim, a Liturgia de hoje nos indica um caminho para o verdadeiro encontro com Jesus: é preciso escutar as Escrituras e partir juntos o Pão. Desta forma nos nutrimos do Pão da Vida que é a Eucaristia. Quem participa da Eucaristia se deixa transformar por Aquele que nela se doa. Por isso, a Eucaristia tende a nos tornar apóstolos, pois ela é amor ardente de Deus por nós, a qual devemos amar com um amor igualmente consumidor.
Sim, o “reconhecemos ao partir o pão”.

Pe. Rodolfo Marinho de Sousa
3º. Domingo da Páscoa – “Domingo dos Discipulos de Emaús” (Ano A)
São Paulo, 04 de Maio de 2014
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nuvem de Tags

Amizade (7) Ano novo (3) Artigos (20) Artur da Távola (1) Audio (1) Autores desconhecidos (1) Beatificação (1) Carlos Drumonnd de Andrade (1) Charles Caleb Colton (1) Colaboradores (2) Dalai Lama (1) Dennis Gabor (1) Devocional (10) Diacp. José da Cruz (5) Diário (1) Divulgação (1) Documentos da Igreja (2) Ella Wheeler Wilcox (1) Em defesa da vida (1) Estudo sobre a Didaché (6) Estudos e Catequeses (2) Eucaristia (1) Eventos (1) Família (2) Fé e Política (1) Fernando Pessoa (2) Fernando Sabino (1) Formação (21) Fotos (4) Gandhi (1) George Bernard Shaw (1) George Gracie (1) Gotas da Palavra (5) Gotas de sabedoria (50) Henry Thoreau (1) Heresia (2) Homenagem aos pais (1) Homilias (25) Icones (1) Ir. Inês (1) João Paulo II (3) Joseph Campbell (1) Liang Tzu (1) Liturgia (1) Luana Lua (1) Madre Teresa de Calcutá (1) Maria Paula Fraga (1) Mário Lago (1) Mário Quintana (1) Matrimônio (1) Música (30) Natal (7) Nossa Senhora (2) Nossa Senhora Aparecida (3) Nossa Senhora da Alegria (1) Oliver Wendell Holmes (1) Orações (10) Pablo Neruda (1) Palavra dos Santos (3) Paróquia Todos os Santos (1) Pe. Fábio de Melo (1) Pierre Schurmann (1) Pio XII (1) Poemas (6) Pregações (3) Refletindo com a Palavra de Deus (9) Reflexão (84) Reflexões Quaresmais (17) Renata Mangeon (1) Roberto Shinyashiki (1) Rodolfo Marinho de Sousa (1) Sabedoria dos Santos (10) Sacerdócio (2) Sacramentos (1) Sagrada Família (1) Saint Exupéry (1) Santa Emília de Rodat (2) Santa Faustina (1) Santa Teresa de Jesus (1) Santa Terezinha do Menino Jesus (2) Santo Agostinho (1) Santos (1) São Francisco de Assis (1) São João Maria Vianney (1) Sirlei L. Passolongo (1) Solidariedade (1) Tahyane Rangel (1) Testemunho (7) Vargas Vila (1) Versículos Eternos (1) Videos (49) Vinicius de Moraes (1) Vocação (2) Zeza Marqueti (1)