"Senhor, tua Palavra é luz no meu caminho e lâmpada para os meus pés! Creio que por meio da tua Palavra o Universo se formou; Creio que por meio da Tua Palavra a terra se firmou; Creio que Tua Palavra, o Verbo Eterno, se encarnou em nosso meio: Jesus, és a Palavra Viva de Deus Pai, Palavra que permanece viva em nosso meio, e continua a ser inspirada e renovada pelo Santo Espírito. Tudo pode passar, as ervas podem secar, as folhas podem cair, o céu e a terra passar, mas, tua Palavra meu Deus, jamais passará. E enquanto eu viver quero emprestar minha voz a Ti para que continueis falando ao coração dos homens e mulheres deste tempo! Fala-me Senhor, fala em mim Senhor, fala por mim Senhor!"

sexta-feira, 12 de março de 2010

Estudo sobre a Didaché - Parte II: Os dois caminhos (Cap. 1 a 6)



A.    Primeira Parte: Os dois caminhos.
(Capítulos 1 a 6)

É uma catequese fundamental para aqueles que desejam viver e se comportar de modo cristão, explicada através do símbolo do caminho, que aqui vai ser explicado sob dois significados, o caminho da vida e o caminho da morte: 1,1Existem dois caminhos: um é o caminho da vida, e o outro, o da morte. A diferença entre os dois é grande”. (Didaché 1,1). (Cf. Dt 5,32s. 11,26-32. 30,15-20; Ecle 15,15-17; Jr 21,8; Mt 7,13-14)
O cristão deve fazer uma escolha fundamental que irá definir toda a sua vida e destino. Só há um caminho que produzirá no cristão a vida e realização, é o caminho da vida. Os outros caminhos acabam por levar à perdição e a morte.

1. Viver é amar
 2O caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça ao outro nada daquilo que você não quer que façam a você. 3O ensinamento que deriva destas palavras é o seguinte: bendigam aqueles que os amaldiçoam e rezem por seus inimigos, e ainda jejuem por aqueles que os perseguem. Com efeito, se vocês amam aqueles que os amam, que graça vocês merecem? Os pagãos não fazem o mesmo? Quanto a vocês, amem aqueles que os odeiam, e vocês não terão nenhum inimigo”. (Didaché 1,2-3) (Cf. Dt 6,5. 10,12; Lv 6,31; 19,18; Ecle7,30; Mt 5,44s. 7,12. 22,34-39; Lc 6,27s.32s)
O ponto de partida da vida cristã é o amor a Deus, refletido no amor a si mesmo e ao próximo. O amor ao próximo deve ter a mesma medida do amor que o cristão tem para consigo mesmo, e entenda-se “próximo” como todas as pessoas, inclusive os “inimigos”. Assim entende-se que os cristãos não são e nem podem ser inimigos de ninguém.

2. A violência do amor
 4Não se deixe levar pelos impulsos instintivos. Se alguém lhe dá uma bofetada na face direita, ofereça-lhe também a outra face, e você será perfeito. Se alguém o força a acompanhá-lo pelo espaço de um quilômetro, acompanhe-o por dois; se alguém tira o seu manto, entregue-lhe também a túnica. Se alguém toma alguma coisa que pertence a você, não a peça de volta, pois você não poderá fazer isso” (Didaché 1,4). (Cf. Dt 24,10-13; Mt 5,39s.; Lc 6,29)
O cristão não pode agir por “instinto”. Diante de qualquer tipo de violência, ele responde sempre com a violência do amor, a única capaz de desarmar o violento.

3. O amor de partilha
 5Dê a quem pede a você e não peça para devolver, pois o Pai quer que os seus bens sejam dados a todos. Feliz aquele que dá conforme o mandamento, porque será considerado inocente. Ai de quem recebe: se recebe por estar necessitado, será considerado inocente; mas se recebe sem ter necessidade, deverá prestar contas do motivo e da finalidade pelos quais recebeu. Será posto na prisão e interrogado sobre o que fez; e daí não sairá até que tenha devolvido o último centavo. 6A esse respeito, também foi dito: Que a sua esmola fique suando nas mãos, até que você saiba para quem a está dando” (Didaché 1,5-6). (Cf. Ecle 12,1; Mt 5,25s; Lc 12,58s;)
É preciso entender que o distribuidor dos bens é Deus, e ele dá estes bens para que sejam repartidos entre todos. O cristão é chamado a partilhar os seus bens porque ele é capaz disto, principalmente com aqueles que nada têm. Por sua vez, quem do outro recebe bens em sinal de partilha, deve ter discernimento, pois a “necessidade” não pode ser pretexto para o acumulo ou desperdiço, sobretudo, no tocante a alimentos e vestuário. Aqui se fala claramente do “bem comum” da comunidade, onde os cristãos devem ter tudo em comum e dividir os seus bens com alegria (Cf. At 2,42-47).
O versículo sexto traz um alerta: Não basta ajudar materialmente quem é necessitado, por simples desencargo de consciência; é preciso comprometer-se com o pobre, entrar em comunhão com ele e participar de toda a sua situação, pois a ajuda material na verdade é um segundo aspecto de uma missão bem maior que é acabar com a pobreza, tanto material, como espiritual. Doar a quem não tem é muito mais que uma ocasião para se fazer caridade.

4. Exigências do amor ao próximo
 2,1O segundo mandamento da instrução é este: 2Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, não roube, não pratique magia, nem feitiçaria. Não mate a criança no seio de sua mãe, nem depois que ela tenha nascido. 3Não cobice os bens do próximo, não jure falso, nem preste falso testemunho. Não seja maledicente, nem vingativo. 4Não seja duplo no pensar e no falar, porque a duplicidade é armadilha mortal. 5Que a sua palavra não seja falsa ou vazia, mas se comprove na prática. 6Não seja avarento, nem ladrão, nem fingido, nem malicioso, nem soberbo. Não planeje o mal contra o seu próximo. 7Não odeie a ninguém, mas corrija uns, reze por outros, e ainda ame aos outros, mais do que a si mesmo”. (Didaché 2,1-7). (Cf. Ex 20,2-17. 21,22-25; Dt 5,6-21; Pr 21,6; Mt 5,33; Jo 15,13).
As primeiras comunidades cristãs recapitulam e ampliam, conforme a sua realidade os preceitos e as conseqüências dos dez mandamentos, tendo sempre presente o mandamento de Jesus, que constitui no amor ao próximo, que por sinal, será sempre uma exigência para a vida na comunidade.
Os mandamentos, neste contexto, podem ser divididos em três grandes linhas:
·         O respeito à vida: Já nas primeiras comunidades havia o cuidado pela própria vida e a vida dos outros, enxergando aqui a vida como um verdadeiro Dom de Deus, e por isso mesmo os cristãos já abominavam o aborto, que hoje infelizmente é reivindicado como “um direito da mulher” na sociedade, inclusive em alguns grupos e movimentos que se dizem “católicos”. A vida que é dom de Deus passou a ser dom de seres humanos? Mas, isto é pauta para outro assunto;
·         O respeito aos bens;
·         O respeito ao próximo: mais uma vez o mandamento do amor.
As comunidades entendem que os mandamentos não podem ser compreendidos em si mesmos apenas, mas, que eles irão proporcionar e pressupor o fundamento da vida cristã, que traz como exigência à fraternidade e a partilha, visando à justiça e a imitação em todos os campos da vida do Evangelho de Jesus Cristo.

5. As raízes do mal e do bem
 3,1Meu filho, procure evitar tudo o que é mau e tudo o que se pareça com o mal. 2Não seja colérico, porque a ira conduz para a morte. Também não seja ciumento, nem briguento ou violento, porque os homicídios nascem de todas essas coisas. 3Meu filho, não seja cobiçoso de mulheres, porque a cobiça leva à fornicação. Evite falar obscenidades e olhar com malícia, pois os adultérios surgem de todas essas coisas. 4Meu filho, não seja dado à adivinhação, pois a adivinhação leva à idolatria. Também não pratique encantamentos, astrologia ou purificações, nem queira ver ou ouvir sobre essas coisas, pois de todas essas coisas provém a idolatria. 5Meu filho, não seja mentiroso, porque a mentira leva ao roubo. Não seja ávido de dinheiro, nem cobice a fama, porque os roubos nascem de todas essas coisas. 6Meu filho, não seja murmurador, porque a murmuração leva à blasfêmia. Não seja insolente, nem tenha mente perversa, pois as blasfêmias nascem de todas essas coisas. 7Seja manso, porque os mansos receberão a terra como herança. 8Seja paciente, misericordioso, sem maldade, tranqüilo e bom, respeitando sempre as palavras que você tiver ouvido. 9Não se engrandeça a si mesmo, nem se entregue à insolência. Não se junte com os “grandes”, mas converse com os justos e pobres. 10Aceite como boas as coisas que lhe acontecem, sabendo que nada acontece sem o consentimento de Deus”. (Didaché 3,1-10) (Cf. Ex 16,1-3; Lv20.6-27; Dt 18,9-14; Sl 31,11; Mt 5,5).
O principio geral deste texto se resume em “evitar o mal”, apresentado como conseqüência do egoísmo, da falta de autocontrole e ambição por parte do homem. Ainda aqui identificamos fortes traços do decálogo e do trato com o próximo.

A)    Raízes do mal
As primeiras comunidades designam desta maneira as raízes do mal:
a)      Homicídio e adultério: Têm suas raízes na falta de controle e na cobiça. Cobiçar não é simplesmente desejar, mas planejar para se apropriar do que se deseja;
b)     Idolatria: A manipulação de “coisas tidas como sagradas”, em vista de interesses próprios e para conseguir poder sobre os outros, através da enganação, sobretudo, pois quem faz este tipo de manipulação, acaba por acreditar e fazer os outros acreditarem que ela é absoluta e divina. As primeiras comunidades já têm este cuidado de não se “misturar” com outras doutrinas que não condizem com o cristianismo, e mais do que isso, reprovam categoricamente todo tipo de adivinhação, encantamentos, astrologia (horóscopo) e outras doutrinas que tenham certo toque de magia, que eram muito comuns na época;
c)      Mentira: Ocultação de uma verdade à qual o próximo tem direito, visando os interesses de alguém, como dinheiro, prestígio e fama;
d)     Riqueza: Para os primeiros cristãos, ao lado do poder a riqueza é outro grande ídolo, pois acreditavam que o poder roubava-lhes a liberdade, e a riqueza roubavam-lhes os bens, que na verdade são de direito de todos. Pensavam assim por dois motivos: primeiro porque procurava viver em tudo o ensinamento do Senhor e o modo como o mesmo viveu entre nós; segundo, porque o poder e a riqueza na época pertenciam somente aos “grandes”, que em geral, oprimiam e escravizavam os “pequenos”;
e)      Blasfêmia: Segundo os primeiros cristãos é dizer que o projeto de Deus é mau, pois a murmuração, a insolência e a mente perversa levam a dúvida e à reclamação e, por conseguinte à blasfêmia.

B)    As raízes do bem:
a)      Opção pelos pobres: Vemos que desde sua origem, a comunidade cristã é convidada a optar pelos pobres, pois são estes que buscam e podem realizar a justiça que Deus quer. As qualidades apresentadas (mansidão, paciência, misericórdia, respeito, humildade) pertencem aos pobres e aos justos que crêem no anuncio do Evangelho e lutam pelo Reino de Deus – todos nós hoje somos convidados a nos enquadrarmos desta maneira, assim como os primeiros cristãos tiveram consciência de que nisto se constitui a verdadeira vocação da comunidade cristã. A força dos pobres não vem de armas, mas, da violência do amor que persevera, certos das promessas do próprio Jesus nas Bem aventuranças, de que a herança é o Reino de Deus (Cf.);
b)     Aceitar a vontade de Deus: O cristão deve ter consciência de que a vida e a história obedecem em primeiro lugar à vontade de Deus, de que todos tenham vida. Por isso, o cristão deve, com base na Palavra de Deus, buscar nos acontecimentos do dia a dia, não os seus caprichos e interesses, mas, sempre a Vontade de Deus.

6. A pessoa inserida na comunidade
 4,1Meu filho, lembre-se dia e noite daquele que anuncia a Palavra de Deus para você e honre-o como se fosse o próprio Senhor, pois o Senhor está presente onde é anunciada a soberania do Senhor. 2Procure estar todos os dias na companhia dos fiéis, para encontrar apoio nas palavras deles. 3Não provoque divisão. Pelo contrário, reconcilie aqueles que brigam entre si. Julgue de modo justo, corrigindo as culpas sem fazer diferença entre as pessoas. 4Não fique hesitando sobre o que vai ou não acontecer. 5Não seja como os que estendem a mão na hora de receber e a retiram na hora de dar. 6Se você ganha alguma coisa com o trabalho de suas mãos, ofereça-o como reparação por seus pecados. 7Não hesite em dar, nem dê reclamando, pois você sabe quem é o verdadeiro remunerador da sua recompensa. 8Não rejeite o necessitado. Divida tudo com o seu irmão, e não diga que são coisas suas. Se vocês estão unidos nas coisas que não morrem, tanto mais nas coisas perecíveis. 9Não se descuide de seu filho ou de sua filha; pelo contrário, instrua-os desde a infância no temor de Deus. 10Não dê ordens com rudeza ao seu servo ou à sua serva, pois eles esperam no mesmo Deus que você, para que não percam o temor de Deus, que está acima de uns e outros. Com efeito, ele não virá chamar a pessoa pela aparência, mas aqueles que o Espírito preparou. 11Quanto a vocês, servos, sejam submissos aos seus senhores, com respeito e reverência como à imagem de Deus. 12Deteste toda hipocrisia e tudo o que não seja agradável ao Senhor. 13Não viole os mandamentos do Senhor. Guarde o que você recebeu, sem nada acrescentar ou tirar. 14Confesse as suas faltas na reunião dos fiéis, e não comece a sua oração com má consciência. Este é o caminho da vida”. (Didaché 4,1-14). (Cf. Dt 1,16s; Pr 31,9; Jo 20,23; At 4,32; Hb 13,7.16; Ef 6,1-9; Cl 3,20-25; I Jo 5,14)
Este trecho afirma que a vida cristã deve ser centralizada no amor a Deus e ao próximo, e que a mesma essencialmente é realização comunitária onde tudo é partilhado fraternalmente (Cf. At 2,42-47). Encontramos ainda traços do “rosto” das primeiras comunidades: seus representantes, espaço e procedência dos membros.

A)    O Evangelho e seus pregadores: É certo que as comunidades do primeiro século ainda não conhecem os evangelhos escritos, e sim, sua versão oral. O significado do Evangelho para os primeiros cristãos é o mesmo para nós hoje, trata-se de uma “Palavra viva” do próprio Cristo, que era preservada e anunciada por “pregadores itinerantes”, que servem as comunidades e dependem delas. Não se sabe ao certo, se estes pregadores já possuíam alguma espécie de sacerdócio, e se eles tinham alguma função de lideres nas comunidades;
B)    A Comunidade Cristã:
a)      Ambiente vital dos cristãos, onde estes partilham a vida e encontram uns nos outros o apoio para perseverar na fé;
b)     É valor máximo na vida dos cristãos, e por isso não pode ser palco de divisão ou competição;
c)      É nela que se dá a reconciliação, que deve ser preocupação de todos sem exceção;
d)     Tudo o que a comunidade cristã reconhece e possuí é dom de Deus;
e)      Lugar de acolhida por excelência dos pobres e marginalizados;
f)       Lugar de partilha: “Deus dá tudo, para que todos repartam tudo, segundo as necessidades de cada um”.
C)    Viver em Comunidade: Viver em comunidade supõe que cada um confie plenamente no Dom de Deus, libertando-se da preocupação individual e calculista com o amanhã. Para tal vivência a comunidade precisa se educar, e o ponto fundamental nesta educação é a instrução no temor de Deus, ou seja, a comunidade precisa aprender a reconhecer em Deus, o Senhor e doador da vida, que tem o seguinte projeto: “Antes de se partilhar qualquer coisa, a comunidade precisa partilhar a vida recebida de Deus mesmo entre todos (Cf.). Só assim o cristão poderá partilhar as outras coisas que dia após dia Deus dá á comunidade”. Aqui começa a educação cristã, ao mostrar que os cristãos são interdependentes e se completam mutuamente na partilha do que cada um é e tem. O desejo de Deus é que não haja mais desigualdade, para que todos formem uma única família, visando na diversidade o bem comum de todos. A vivência na comunidade é expressão deste desejo de Deus.
D)    Transformação das estruturas: Os cristãos começam a ganhar a consciência de que o Evangelho exige mudança radical. Não basta o cristão defender a doutrina, é preciso praticá-la, para não cair em hipocrisia. Não basta guardar os mandamentos, é preciso vivê-lo.
E)    O Sacramento da Confissão: A Confissão aparece aqui não como um sacramento juridicamente estruturado e reconhecido. Provavelmente os cristãos já confessavam os seus pecados, mas, não a um sacerdote, e sim à comunidade que era a responsável pelo perdão. Aliás, o “sentir-se viva” da comunidade estava centrado na confissão e no perdão;
F)     A oração: O texto nos fala que não se deve começar a oração com má consciência, portanto, a oração do cristão deve ser autêntica, feita dentro do projeto de Deus e em vista da sua realização.
 
7. O caminho da morte
             “5,1O caminho da morte é este: Em primeiro lugar, é mau e cheio de maldições: homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias, práticas mágicas, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, duplicidade de coração, fraude, orgulho, maldade, arrogância, avareza, conversa obscena, ciúme, insolência, altivez, ostentação e ausência de temor de Deus. 2Por esse caminho andam os perseguidores dos bons, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os que ignoram a recompensa da justiça, os que não desejam o bem nem o julgamento justo, os que não ficam atentos para o bem, mas para o mal. Deles está longe a calma e a paciência; são amantes das coisas vãs, ávidos de recompensas, não se compadecem do pobre, não se importam com os atribulados, não reconhecem o seu Criador. São ainda assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus, desprezam o necessitado, oprimem o aflito, defendem os ricos, são juízes com os pobre e, por fim, são pecadores consumados. Filhos, afastem-se de tudo isso”. (Didaché 5,1-2)
Resumindo, a catequese dos primeiros cristãos sobre o caminho da vida consiste primeiramente no temor a Deus, e depois no amor a Deus e ao próximo. Sendo assim, o caminho da morte constitui o contrário, pois começa com a ausência do temor a Deus, que faz o homem se colocar em seu lugar e se achar no direito de se julgar como centro e senhor da sua vida. Este trecho traz um alerta aos primeiros cristãos, e em outras palavras diz que quando o homem usurpa o lugar de Deus, cria automaticamente um projeto de escravidão e morte, descaracterizando totalmente o projeto de vida de Deus. Esta lista de pecados e vícios enumerada mostra o poder da auto-suficiência humana.
É interessante refletirmos o seguinte: os cristãos dos primeiros séculos temiam cair em algum destes pecados e vícios, porque tinham a consciência de que isto constituía um mal grande a comunidade, pois tinha presentes em sua vida o temor filial a Deus. Em outras palavras, tinham medo de pecar e sabiam muito bem onde poderiam ou não colocar os seus pés e sua vida.
Nestes tempos em que vivemos se perderam de vista todas estas coisas, e a lista de vícios e pecados que é citada aqui, não passa simplesmente de coisas corriqueiras da vida dia diária de muitos, inclusive cristãos. Será que não é necessário que os homens e mulheres de nosso tempo reinflamem no coração o temor a Deus, e lhe devolva a direção de sua vida?

8. Perfeição é servir ao Senhor
             “1Fique atento para que ninguém o afaste deste caminho da instrução, pois aquele ensinaria a você coisas que não pertencem a Deus. 2Se puder carregar todo o jugo do Senhor, você será perfeito. Se isso não for possível, faça o que puder. 3Quanto à comida, observe o que você puder. Não coma nada do que é sacrificado aos ídolos, porque esse é um culto a deuses mortos”. (Didaché 6,1-3). (Cf. Mt 24,4)
Este trecho conclui a primeira parte do Catecismo dos primeiros cristãos, inclusive é a parte mais complexa da instrução. A conclusão de dá por meio de uma exortação, para que os cristãos tenham discernimento em sua vida, a fim de não se desviarem do caminho da vida, ou seja, o caminho do Senhor.
Nesta primeira parte vimos o “Evangelho vivo”, que chegou até os primeiros cristãos por meio da Tradição Oral. O jugo do Senhor de que fala o texto, se trata deste Evangelho aqui proclamado, que de maneira alguma é imposição, mas sim convite e proposta a serem aceitos individualmente por cada membro na comunidade que predispõe a estar no caminho do Senhor e busca ao servi-lo a perfeição. Perfeição deve ser entendida aqui na integra: para ser perfeito é preciso servir ao Senhor.

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