"Senhor, tua Palavra é luz no meu caminho e lâmpada para os meus pés! Creio que por meio da tua Palavra o Universo se formou; Creio que por meio da Tua Palavra a terra se firmou; Creio que Tua Palavra, o Verbo Eterno, se encarnou em nosso meio: Jesus, és a Palavra Viva de Deus Pai, Palavra que permanece viva em nosso meio, e continua a ser inspirada e renovada pelo Santo Espírito. Tudo pode passar, as ervas podem secar, as folhas podem cair, o céu e a terra passar, mas, tua Palavra meu Deus, jamais passará. E enquanto eu viver quero emprestar minha voz a Ti para que continueis falando ao coração dos homens e mulheres deste tempo! Fala-me Senhor, fala em mim Senhor, fala por mim Senhor!"

domingo, 1 de março de 2009

A Realidade do Pecado e a Realidade da Conversão

1. Todos nós conhecemos a cena do dilúvio (Cf. Gn 6,5-7,24). Deus diante da corrupção que a humanidade vivia - assim nos relata a Escritura - por conta do pecado, pede a Noé que construa uma arca, separe um casal de cada espécie de ser vivo e se abrigue com estes e sua família dentro da mesma, pois Ele mandaria um dilúvio sobre a terra para acabar com a corrupção em que a humanidade vivia.
E assim Deus o faz.
Por meio da família de Noé e das espécies a salvo na arca, Deus inicia “uma nova criação”, livre, mas, ainda pecadora, pois a mancha do pecado original não pode mais ser apagada uma vez que ela entrou no mundo.

2. Entendamos. Deus faz acontecer o dilúvio, porque a humanidade pecou gravemente contra a sua fidelidade e misericórdia. Porém, após este episódio, Ele mesmo firma uma Aliança com Noé: “Eis que estabeleço minha aliança convosco e com os vossos descendentes depois de vós, e com todos os seres animados que estão convosco, todos os animais da terra. Estabeleço minha aliança convosco: tudo o que existe não será mais destruído pelas águas do dilúvio; não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. (Gn 9,9-11).
Nasce com esta Aliança um novo significado para toda a humanidade, enquanto que a Aliança que Deus faz com Abraão, que tem por sinal a circuncisão, interessa somente a descendência do nosso Pai na fé; a Aliança que Deus faz com Noé se entende a toda criação, portanto, a todos nós.
Tal Aliança vem acompanhada de uma promessa que Deus faz, ratificada pelo seu sinal, o arco íris, sinal aqui da fidelidade de Deus para com a humanidade; a promessa de que Ele não mais a destruirá: “Quando eu reunir as nuvens sobre a terra e o arco aparecer na nuvem, eu me lembrarei da aliança que há entre mim e vós e todos os seres vivos: toda carne e as águas não mais se tornarão um dilúvio para destruir toda carne”. (Gn. 9,14-15)

3. Apesar da Nova Aliança de Deus com a humanidade ser aquela selada pelo Sangue de Jesus na Cruz, Ele de certo modo, sela uma nova aliança com a humanidade após o dilúvio.
Porém, a realidade de antes da humanidade permanece a mesma até nossos dias: Ainda nós somos pecadores! E Deus, sabe disso, mas, ao invés de mandar um novo dilúvio a terra, ele continua fiel à aliança que fez conosco, plenificada no Sangue de Jesus e assim passa a acreditar em nós e agir com sua misericórdia sobre esta nossa realidade.

4. Surgem aqui diante dos nossos olhos duas opções. A primeira é deixar-nos perder como outrora no pecado e na corrupção. A segunda opção é pedir que o Senhor nos aponte o caminho a seguir, sabendo que é Ele – Deus – que aponta o caminho ao pecador (Cf. Sl 24(25), 8).
O caminho de volta ao primeiro amor que o pecador deve trilhar se constitui por meio da Cruz de Jesus, meio eficaz para o encontro com Deus (Cf. I Pd 3,18). Foi necessário que Jesus morresse e levasse na cruz os nossos pecados, pra que libertos da corrupção, pudéssemos regressar a Deus e assim fazer com Ele a experiência da sua misericórdia.
Experiência que vai nos levar a entender, por meio de analogias, que as águas do dilúvio, de certo modo, foram meio de salvação para o povo perdido no pecado. Hoje, este meio de salvação se dá para nós pelas águas do batismo, onde sepultamos o homem velho com o Cristo que sofre, padece e morre pela nossa salvação e com Ele ressuscitamos para uma vida nova (Cf. I Pd 3,19-21).

5. Estas opções, qualquer uma das duas, são possibilidades na vida do homem, no entanto, é ele mesmo que decide se quer perder-se ou fazer quantas vezes for necessário o caminho de volta para Deus.
Sem fantasiar, tenhamos em mente uma coisa importante: Nosso Senhor e Salvador foi tentado no deserto pelo diabo quando se preparava para iniciar o seu ministério a pecar contra o Pai e contra sua consciência de Filho de Deus (Cf. Mc 1,12-13). Nós sabemos que o “Cristo Homem” é igual a nós em tudo, exceto no pecado, fato que não o isenta de ser tentado.
Portanto, se Jesus, Filho de Deus, e Deus mesmo em sua essência, foi tentado, nós também certamente o seremos nos desertos que se apresentarmos diante de nós ao longo da nossa vida, e diferente de Jesus, nós pecamos, portanto, sem dúvida, vamos consentir a algumas tentações e vamos cair.
Lembramos aqui do caminho de retorno a Deus, é nisto que ele consiste, o que chamamos de processo de Conversão, que não é tão fácil como podemos imaginar, pois passaremos sem dúvida, por muitas situações de tentação, onde cairemos e teremos que nos levantar e ainda passar pelos “dilúvios de purificação”, ou seja, ressurgir como novas criaturas. E isto uma, duas, três, dez, cem, mil, quantas vezes forem necessárias.

6. “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15b) é o que vamos ouvir o resto da nossa vida, isto para nos lembrar que somos pecadores, de onde viemos e que necessitamos da graça e da misericórdia de Deus para continuar a caminharmos como uma Nova Criação.
Para o homem só há um caminho: “converter-se”, para que este tenha vida plena em Deus. E mais, uma conversão vivida em meio a crises que hora ou outra aparecerão, uma vez que trazemos dentro de nós, a vontade e a motivação de nos afastar do pecado, mas, ao mesmo tempo, trazemos também a fraqueza que nos faz nele sucumbir.
Converter-se não implica um retoque mágico em algo da vida – como vemos nas propagandas mais variadas de “conversão em um dia” em nossos meios de comunicação – mas sim um convite à conversão total, a uma atitude radical de mudança de mentalidade, de pensamento sobre valores e conceitos, e de opções fundamentais. A Conversão, portanto, está na linda do Tudo ou Nada!
Viveremos sempre no limite do Tudo ou Nada, e é deste modo, que somos inseridos no Reino, como somos e como estamos! É deste modo que cooperamos com o anúncio do Evangelho! E é deste modo que iremos trilhar, se assim o escolhemos, o caminho que Deus nos aponta, certos de que a chegada será a Ressurreição!

7. Este tempo em que vivemos na Vida da Igreja, Tempo Favorável da Graça de Deus, que é a Quaresma, nos convida, em especial, enquanto indivíduos e comunidades, a crer no Evangelho; ou seja, a nos libertarmos dos ídolos, a confiar plenamente no Cristo Jesus e no que Ele diz, a trilharmos o caminho que Ele nos indica, passando pela Cruz e pelo dilúvio – como sacrifício e vontade de acertar – visando atingir a Liberdade.
Só desse modo, como humanidade livre, é que a conversão a Cristo irá refletir-se em todas as áreas de nossas vidas, como de nossas comunidades e sociedades.
Pensar em conversões rápidas e repentinas, é não querer mudar nada, ao contrário de um processo de conversão para toda a vida, que nos chama ao compromisso com algo concreto e que nos motiva a dar um passo a cada dia, não só na Quaresma, mas, todos os dias da vida interrogar-se sobre o que se pode fazer, e querer ou não fazê-lo.

8. Que possamos, todos nós que confiamos na Misericórdia de Deus, progredir no conhecimento do Salvador e Senhor Jesus Cristo, nesta realidade de processo de conversão em que estamos inseridos, correspondendo ao seu amor, no esforço de vivermos santamente as nossas vidas, trilhando o caminho que Ele nos indica rumo à glória da Ressurreição e da nova vida no Pai, pelo Espírito Santo, Amém.

Texto escrito para a Celebração do 1º. Domingo da Quaresma
(01.03.2009 - Ano B)
Paróquia Todos os Santos (Matriz)

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nuvem de Tags

Amizade (7) Ano novo (3) Artigos (20) Artur da Távola (1) Audio (1) Autores desconhecidos (1) Beatificação (1) Carlos Drumonnd de Andrade (1) Charles Caleb Colton (1) Colaboradores (2) Dalai Lama (1) Dennis Gabor (1) Devocional (10) Diacp. José da Cruz (5) Diário (1) Divulgação (1) Documentos da Igreja (2) Ella Wheeler Wilcox (1) Em defesa da vida (1) Estudo sobre a Didaché (6) Estudos e Catequeses (2) Eucaristia (1) Eventos (1) Família (2) Fé e Política (1) Fernando Pessoa (2) Fernando Sabino (1) Formação (21) Fotos (4) Gandhi (1) George Bernard Shaw (1) George Gracie (1) Gotas da Palavra (5) Gotas de sabedoria (50) Henry Thoreau (1) Heresia (2) Homenagem aos pais (1) Homilias (25) Icones (1) Ir. Inês (1) João Paulo II (3) Joseph Campbell (1) Liang Tzu (1) Liturgia (1) Luana Lua (1) Madre Teresa de Calcutá (1) Maria Paula Fraga (1) Mário Lago (1) Mário Quintana (1) Matrimônio (1) Música (30) Natal (7) Nossa Senhora (2) Nossa Senhora Aparecida (3) Nossa Senhora da Alegria (1) Oliver Wendell Holmes (1) Orações (10) Pablo Neruda (1) Palavra dos Santos (3) Paróquia Todos os Santos (1) Pe. Fábio de Melo (1) Pierre Schurmann (1) Pio XII (1) Poemas (6) Pregações (3) Refletindo com a Palavra de Deus (9) Reflexão (84) Reflexões Quaresmais (17) Renata Mangeon (1) Roberto Shinyashiki (1) Rodolfo Marinho de Sousa (1) Sabedoria dos Santos (10) Sacerdócio (2) Sacramentos (1) Sagrada Família (1) Saint Exupéry (1) Santa Emília de Rodat (2) Santa Faustina (1) Santa Teresa de Jesus (1) Santa Terezinha do Menino Jesus (2) Santo Agostinho (1) Santos (1) São Francisco de Assis (1) São João Maria Vianney (1) Sirlei L. Passolongo (1) Solidariedade (1) Tahyane Rangel (1) Testemunho (7) Vargas Vila (1) Versículos Eternos (1) Videos (49) Vinicius de Moraes (1) Vocação (2) Zeza Marqueti (1)