1. Todos nós conhecemos a cena do dilúvio (Cf. Gn 6,5-7,24). Deus diante da corrupção que a humanidade vivia - assim nos relata a Escritura - por conta do pecado, pede a Noé que construa uma arca, separe um casal de cada espécie de ser vivo e se abrigue com estes e sua família dentro da mesma, pois Ele mandaria um dilúvio sobre a terra para acabar com a corrupção em que a humanidade vivia.
E assim Deus o faz.
Por meio da família de Noé e das espécies a salvo na arca, Deus inicia “uma nova criação”, livre, mas, ainda pecadora, pois a mancha do pecado original não pode mais ser apagada uma vez que ela entrou no mundo.
2. Entendamos. Deus faz acontecer o dilúvio, porque a humanidade pecou gravemente contra a sua fidelidade e misericórdia. Porém, após este episódio, Ele mesmo firma uma Aliança com Noé: “Eis que estabeleço minha aliança convosco e com os vossos descendentes depois de vós, e com todos os seres animados que estão convosco, todos os animais da terra. Estabeleço minha aliança convosco: tudo o que existe não será mais destruído pelas águas do dilúvio; não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. (Gn 9,9-11).
Nasce com esta Aliança um novo significado para toda a humanidade, enquanto que a Aliança que Deus faz com Abraão, que tem por sinal a circuncisão, interessa somente a descendência do nosso Pai na fé; a Aliança que Deus faz com Noé se entende a toda criação, portanto, a todos nós.
Tal Aliança vem acompanhada de uma promessa que Deus faz, ratificada pelo seu sinal, o arco íris, sinal aqui da fidelidade de Deus para com a humanidade; a promessa de que Ele não mais a destruirá: “Quando eu reunir as nuvens sobre a terra e o arco aparecer na nuvem, eu me lembrarei da aliança que há entre mim e vós e todos os seres vivos: toda carne e as águas não mais se tornarão um dilúvio para destruir toda carne”. (Gn. 9,14-15)
3. Apesar da Nova Aliança de Deus com a humanidade ser aquela selada pelo Sangue de Jesus na Cruz, Ele de certo modo, sela uma nova aliança com a humanidade após o dilúvio.
Porém, a realidade de antes da humanidade permanece a mesma até nossos dias: Ainda nós somos pecadores! E Deus, sabe disso, mas, ao invés de mandar um novo dilúvio a terra, ele continua fiel à aliança que fez conosco, plenificada no Sangue de Jesus e assim passa a acreditar em nós e agir com sua misericórdia sobre esta nossa realidade.
4. Surgem aqui diante dos nossos olhos duas opções. A primeira é deixar-nos perder como outrora no pecado e na corrupção. A segunda opção é pedir que o Senhor nos aponte o caminho a seguir, sabendo que é Ele – Deus – que aponta o caminho ao pecador (Cf. Sl 24(25), 8).
O caminho de volta ao primeiro amor que o pecador deve trilhar se constitui por meio da Cruz de Jesus, meio eficaz para o encontro com Deus (Cf. I Pd 3,18). Foi necessário que Jesus morresse e levasse na cruz os nossos pecados, pra que libertos da corrupção, pudéssemos regressar a Deus e assim fazer com Ele a experiência da sua misericórdia.
Experiência que vai nos levar a entender, por meio de analogias, que as águas do dilúvio, de certo modo, foram meio de salvação para o povo perdido no pecado. Hoje, este meio de salvação se dá para nós pelas águas do batismo, onde sepultamos o homem velho com o Cristo que sofre, padece e morre pela nossa salvação e com Ele ressuscitamos para uma vida nova (Cf. I Pd 3,19-21).
5. Estas opções, qualquer uma das duas, são possibilidades na vida do homem, no entanto, é ele mesmo que decide se quer perder-se ou fazer quantas vezes for necessário o caminho de volta para Deus.
Sem fantasiar, tenhamos em mente uma coisa importante: Nosso Senhor e Salvador foi tentado no deserto pelo diabo quando se preparava para iniciar o seu ministério a pecar contra o Pai e contra sua consciência de Filho de Deus (Cf. Mc 1,12-13). Nós sabemos que o “Cristo Homem” é igual a nós em tudo, exceto no pecado, fato que não o isenta de ser tentado.
Portanto, se Jesus, Filho de Deus, e Deus mesmo em sua essência, foi tentado, nós também certamente o seremos nos desertos que se apresentarmos diante de nós ao longo da nossa vida, e diferente de Jesus, nós pecamos, portanto, sem dúvida, vamos consentir a algumas tentações e vamos cair.
Lembramos aqui do caminho de retorno a Deus, é nisto que ele consiste, o que chamamos de processo de Conversão, que não é tão fácil como podemos imaginar, pois passaremos sem dúvida, por muitas situações de tentação, onde cairemos e teremos que nos levantar e ainda passar pelos “dilúvios de purificação”, ou seja, ressurgir como novas criaturas. E isto uma, duas, três, dez, cem, mil, quantas vezes forem necessárias.
6. “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15b) é o que vamos ouvir o resto da nossa vida, isto para nos lembrar que somos pecadores, de onde viemos e que necessitamos da graça e da misericórdia de Deus para continuar a caminharmos como uma Nova Criação.
Para o homem só há um caminho: “converter-se”, para que este tenha vida plena em Deus. E mais, uma conversão vivida em meio a crises que hora ou outra aparecerão, uma vez que trazemos dentro de nós, a vontade e a motivação de nos afastar do pecado, mas, ao mesmo tempo, trazemos também a fraqueza que nos faz nele sucumbir.
Converter-se não implica um retoque mágico em algo da vida – como vemos nas propagandas mais variadas de “conversão em um dia” em nossos meios de comunicação – mas sim um convite à conversão total, a uma atitude radical de mudança de mentalidade, de pensamento sobre valores e conceitos, e de opções fundamentais. A Conversão, portanto, está na linda do Tudo ou Nada!
Viveremos sempre no limite do Tudo ou Nada, e é deste modo, que somos inseridos no Reino, como somos e como estamos! É deste modo que cooperamos com o anúncio do Evangelho! E é deste modo que iremos trilhar, se assim o escolhemos, o caminho que Deus nos aponta, certos de que a chegada será a Ressurreição!
7. Este tempo em que vivemos na Vida da Igreja, Tempo Favorável da Graça de Deus, que é a Quaresma, nos convida, em especial, enquanto indivíduos e comunidades, a crer no Evangelho; ou seja, a nos libertarmos dos ídolos, a confiar plenamente no Cristo Jesus e no que Ele diz, a trilharmos o caminho que Ele nos indica, passando pela Cruz e pelo dilúvio – como sacrifício e vontade de acertar – visando atingir a Liberdade.
Só desse modo, como humanidade livre, é que a conversão a Cristo irá refletir-se em todas as áreas de nossas vidas, como de nossas comunidades e sociedades.
Pensar em conversões rápidas e repentinas, é não querer mudar nada, ao contrário de um processo de conversão para toda a vida, que nos chama ao compromisso com algo concreto e que nos motiva a dar um passo a cada dia, não só na Quaresma, mas, todos os dias da vida interrogar-se sobre o que se pode fazer, e querer ou não fazê-lo.
8. Que possamos, todos nós que confiamos na Misericórdia de Deus, progredir no conhecimento do Salvador e Senhor Jesus Cristo, nesta realidade de processo de conversão em que estamos inseridos, correspondendo ao seu amor, no esforço de vivermos santamente as nossas vidas, trilhando o caminho que Ele nos indica rumo à glória da Ressurreição e da nova vida no Pai, pelo Espírito Santo, Amém.
E assim Deus o faz.
Por meio da família de Noé e das espécies a salvo na arca, Deus inicia “uma nova criação”, livre, mas, ainda pecadora, pois a mancha do pecado original não pode mais ser apagada uma vez que ela entrou no mundo.
2. Entendamos. Deus faz acontecer o dilúvio, porque a humanidade pecou gravemente contra a sua fidelidade e misericórdia. Porém, após este episódio, Ele mesmo firma uma Aliança com Noé: “Eis que estabeleço minha aliança convosco e com os vossos descendentes depois de vós, e com todos os seres animados que estão convosco, todos os animais da terra. Estabeleço minha aliança convosco: tudo o que existe não será mais destruído pelas águas do dilúvio; não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. (Gn 9,9-11).
Nasce com esta Aliança um novo significado para toda a humanidade, enquanto que a Aliança que Deus faz com Abraão, que tem por sinal a circuncisão, interessa somente a descendência do nosso Pai na fé; a Aliança que Deus faz com Noé se entende a toda criação, portanto, a todos nós.
Tal Aliança vem acompanhada de uma promessa que Deus faz, ratificada pelo seu sinal, o arco íris, sinal aqui da fidelidade de Deus para com a humanidade; a promessa de que Ele não mais a destruirá: “Quando eu reunir as nuvens sobre a terra e o arco aparecer na nuvem, eu me lembrarei da aliança que há entre mim e vós e todos os seres vivos: toda carne e as águas não mais se tornarão um dilúvio para destruir toda carne”. (Gn. 9,14-15)
3. Apesar da Nova Aliança de Deus com a humanidade ser aquela selada pelo Sangue de Jesus na Cruz, Ele de certo modo, sela uma nova aliança com a humanidade após o dilúvio.
Porém, a realidade de antes da humanidade permanece a mesma até nossos dias: Ainda nós somos pecadores! E Deus, sabe disso, mas, ao invés de mandar um novo dilúvio a terra, ele continua fiel à aliança que fez conosco, plenificada no Sangue de Jesus e assim passa a acreditar em nós e agir com sua misericórdia sobre esta nossa realidade.
4. Surgem aqui diante dos nossos olhos duas opções. A primeira é deixar-nos perder como outrora no pecado e na corrupção. A segunda opção é pedir que o Senhor nos aponte o caminho a seguir, sabendo que é Ele – Deus – que aponta o caminho ao pecador (Cf. Sl 24(25), 8).
O caminho de volta ao primeiro amor que o pecador deve trilhar se constitui por meio da Cruz de Jesus, meio eficaz para o encontro com Deus (Cf. I Pd 3,18). Foi necessário que Jesus morresse e levasse na cruz os nossos pecados, pra que libertos da corrupção, pudéssemos regressar a Deus e assim fazer com Ele a experiência da sua misericórdia.
Experiência que vai nos levar a entender, por meio de analogias, que as águas do dilúvio, de certo modo, foram meio de salvação para o povo perdido no pecado. Hoje, este meio de salvação se dá para nós pelas águas do batismo, onde sepultamos o homem velho com o Cristo que sofre, padece e morre pela nossa salvação e com Ele ressuscitamos para uma vida nova (Cf. I Pd 3,19-21).
5. Estas opções, qualquer uma das duas, são possibilidades na vida do homem, no entanto, é ele mesmo que decide se quer perder-se ou fazer quantas vezes for necessário o caminho de volta para Deus.
Sem fantasiar, tenhamos em mente uma coisa importante: Nosso Senhor e Salvador foi tentado no deserto pelo diabo quando se preparava para iniciar o seu ministério a pecar contra o Pai e contra sua consciência de Filho de Deus (Cf. Mc 1,12-13). Nós sabemos que o “Cristo Homem” é igual a nós em tudo, exceto no pecado, fato que não o isenta de ser tentado.
Portanto, se Jesus, Filho de Deus, e Deus mesmo em sua essência, foi tentado, nós também certamente o seremos nos desertos que se apresentarmos diante de nós ao longo da nossa vida, e diferente de Jesus, nós pecamos, portanto, sem dúvida, vamos consentir a algumas tentações e vamos cair.
Lembramos aqui do caminho de retorno a Deus, é nisto que ele consiste, o que chamamos de processo de Conversão, que não é tão fácil como podemos imaginar, pois passaremos sem dúvida, por muitas situações de tentação, onde cairemos e teremos que nos levantar e ainda passar pelos “dilúvios de purificação”, ou seja, ressurgir como novas criaturas. E isto uma, duas, três, dez, cem, mil, quantas vezes forem necessárias.
6. “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15b) é o que vamos ouvir o resto da nossa vida, isto para nos lembrar que somos pecadores, de onde viemos e que necessitamos da graça e da misericórdia de Deus para continuar a caminharmos como uma Nova Criação.
Para o homem só há um caminho: “converter-se”, para que este tenha vida plena em Deus. E mais, uma conversão vivida em meio a crises que hora ou outra aparecerão, uma vez que trazemos dentro de nós, a vontade e a motivação de nos afastar do pecado, mas, ao mesmo tempo, trazemos também a fraqueza que nos faz nele sucumbir.
Converter-se não implica um retoque mágico em algo da vida – como vemos nas propagandas mais variadas de “conversão em um dia” em nossos meios de comunicação – mas sim um convite à conversão total, a uma atitude radical de mudança de mentalidade, de pensamento sobre valores e conceitos, e de opções fundamentais. A Conversão, portanto, está na linda do Tudo ou Nada!
Viveremos sempre no limite do Tudo ou Nada, e é deste modo, que somos inseridos no Reino, como somos e como estamos! É deste modo que cooperamos com o anúncio do Evangelho! E é deste modo que iremos trilhar, se assim o escolhemos, o caminho que Deus nos aponta, certos de que a chegada será a Ressurreição!
7. Este tempo em que vivemos na Vida da Igreja, Tempo Favorável da Graça de Deus, que é a Quaresma, nos convida, em especial, enquanto indivíduos e comunidades, a crer no Evangelho; ou seja, a nos libertarmos dos ídolos, a confiar plenamente no Cristo Jesus e no que Ele diz, a trilharmos o caminho que Ele nos indica, passando pela Cruz e pelo dilúvio – como sacrifício e vontade de acertar – visando atingir a Liberdade.
Só desse modo, como humanidade livre, é que a conversão a Cristo irá refletir-se em todas as áreas de nossas vidas, como de nossas comunidades e sociedades.
Pensar em conversões rápidas e repentinas, é não querer mudar nada, ao contrário de um processo de conversão para toda a vida, que nos chama ao compromisso com algo concreto e que nos motiva a dar um passo a cada dia, não só na Quaresma, mas, todos os dias da vida interrogar-se sobre o que se pode fazer, e querer ou não fazê-lo.
8. Que possamos, todos nós que confiamos na Misericórdia de Deus, progredir no conhecimento do Salvador e Senhor Jesus Cristo, nesta realidade de processo de conversão em que estamos inseridos, correspondendo ao seu amor, no esforço de vivermos santamente as nossas vidas, trilhando o caminho que Ele nos indica rumo à glória da Ressurreição e da nova vida no Pai, pelo Espírito Santo, Amém.
Texto escrito para a Celebração do 1º. Domingo da Quaresma
(01.03.2009 - Ano B)
Paróquia Todos os Santos (Matriz)
(01.03.2009 - Ano B)
Paróquia Todos os Santos (Matriz)
Obs: Imagem retirada de: http://liberdadeepensar.blogspot.com/2007_09_01_archive.html
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