1. Existem na Igreja sete Sacramentos. Sacramento é o mesmo que sinal, e cada um dos sete foram instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo: Batismo, Confirmação ou Crisma, Eucaristia, Penitência ou Reconciliação, Unção dos Enfermos, Ordem e o Matrimônio. Os sete sacramentos estão dispostos de uma forma que atinja todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão; por isso a tríplice divisão: Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia); Sacramentos de Cura (Penitência e Unção dos Enfermos); e, os Sacramentos do Serviço e da Comunhão (Ordem e Matrimônio).
Os Sacramentos da Iniciação Cristã fundam a vocação comum de todos os discipulos de Cristo, que consiste num chamado à santidade e à missão de evangelizar o mundo. O Catecismo da Igreja nos diz que eles “conferem as graças necessárias à vida segundo o Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria” (CIC 1533). Em outras palavras, eles conferem a salvação.
Os Sacramentos da Comunhão e do Serviço também se destinam a salvação, ainda de modo pessoal, porém, através do serviço aos outros, pois eles conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus. Pela Ordem e pelo Matrimônio, àqueles que já foram consagrados a Deus, podem receber consagrações específicas: os que recebem o sacramento da Ordem são consagrados para serem Pastores da Igreja; os esposos cristãos que recebem o sacramento do matrimônio tem a missão especial de edificar o Povo de Deus através de sua consagração e deveres familiares.
Iremos dar especial atenção nesta presente reflexão ao Sacramento do Matrimônio.
2. O Catecismo da Igreja quando trata do mesmo, inicia com as seguintes palavras: “A Aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão de vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação dos filhos, e foi elevada entre os batizados, à dignidade de sacramento, por Cristo Senhor.” (CIC 1601)
Pois bem, na Sagrada Escritura nota-se bem claro que o matrimônio está no desígnio de Deus, uma vez que ela abre-se com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus (Cf. Gn 1,26-27) e se fecha com as “núpcias do Cordeiro de Deus” (Cf. Ap 19,7.9). “De um extremo a outro, a Escritura fala do casamento e de seu "mistério", de sua instituição e do sentido que lhe foi dado por Deus, de sua origem e de seu fim, de suas diversas realizações ao longo de história da salvação, de suas dificuldades provenientes do pecado e de sua renovação "no Senhor" (1Cor 7,39), na nova aliança de Cristo e da Igreja” (CIC 1602)
3. A vocação para o matrimônio está na natureza do homem e da mulher, ao passo que não se trata de algo simplesmente humano, mas algo grandioso que tem a iniciativa no próprio Deus, que, ao criar o homem por amor, também o chama para o Amor.
Deus cria homem e mulher, e o amor mútuo que nasce entre estes dois é imagem de um amor absoluto de Deus pelo homem, por isso é um amor “muito bom” aos olhos de Deus, que o abençoa e o destina a ser fecundo: “Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28).
Estamos falando de um amor que une duas vidas: “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Cf. Gn 2,18-25). A expressão “uma só carne” representa a perfeição desta união.
4. O primeiro sinal de Jesus é operado em uma festa de casamento, as “Bodas de Caná” (Cf. Jo 2,1-11). A Igreja vê na presença de Jesus nesta festa de casamento “a confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, o casamento será um sinal eficaz da presença de Cristo” (CIC 1613).
De fato, é o Cristo Jesus que reafirma que a união entre homem e mulher é indissolúvel, pois é Deus quem a consuma: “O que Deus uniu, o homem não deve separar” (Mt 19,6). Outrora, Moisés havia permitido o repúdio da mulher por conta da dureza de coração do Povo de Deus. Jesus vem para restaurar a ordem original: no principio não havia repúdio ou divórcio, por isso a afirmação de que tal união entre homem e mulher é indissolúvel.
Esta afirmação de Jesus vem de encontro à relação que Ele tem com a sua Igreja. Desde esta fala de Jesus podemos ver no matrimônio o mesmo Amor que Cristo tem pela sua Igreja, por nós, filhos e filhas pelo Batismo. Por isso a recomendação de São Paulo aos maridos para que amem as suas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (Cf. Ef 5,25-26). De fato, toda a vida cristã traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja, e é por isso mesmo que o “Matrimônio cristão se torna, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja” (CIC 1617)
5. Diferente dos outros sacramentos, os ministros da celebração do matrimônio são os próprios esposos, que batizados e livres expressam livremente seu consentimento. A troca do consentimento é indispensável para que o matrimônio aconteça, pois ele constitui um ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem mutuamente: “Eu te recebo por minha mulher”... “Eu te recebo por meu marido”... O consentimento liga os esposos entre si, fazendo-os “uma só carne”. A quem assiste o matrimônio (sacerdote, diácono, testemunha qualificada) em nome da Igreja acolhe o consentimento dos esposos e lhes dá a benção da Igreja e de Deus. As testemunhas presentes indicam que o casamento é mais que uma formalidade e um rito, é uma realidade eclesial, ou seja, cria direitos e deveres na Igreja, entre os esposos e o tocante à prole que nascerá desta união.
"Do Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo e exclusivo; além disso, no Matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados por um sacramento especial aos deveres e à dignidade de seu estado." (CIC 1638)
6. Deus agracia o sacramento do matrimônio destinando assim a aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a fortificação da sua unidade indissolúvel, a santificação da vida conjugal e a aceitação e educação dos filhos.
"O amor conjugal comporta uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa apelo do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da vontade; O amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se à fecundidade. Numa palavra, trata-se das características normais de todo amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e as consolida, mas eleva-as, a ponto de torná-las a expressão dos valores propriamente cristãos." (CIC 1643)
7. Por fim, em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e hostil a fé, as famílias cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. O sacramento do matrimônio é para a Instituição “família”, e a família deve ser “Igreja doméstica”, pois é no seio da mesma que os pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo os primeiros mestres da fé. O lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé, por isso deve ser comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã. (Cf. CIC 1656.1666)
Sem. Rodolfo Marinho de Sousa
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