O Povo de Deus estava sendo atormentado pela seca que devastava o país de Israel e pela guerra que ameaçava a sua segurança política. Neste cenário se encontra o profeta Jeremias que está inteiramente sozinho entre a súplica do povo que insiste arrependido do seu pecado e a ardente justiça de Deus. A oração de Israel é humilde e procura obter a benevolência de Deus, reafirmando que somente Ele é Deus, renunciando a idolatria e voltando atrás na Aliança entre Deus e o povo. Neste momento somente o apelo confiante à misericórdia de Deus Criador é a única esperança do povo (Cf. Jr 14,17-22).
O Povo de Israel se encontra em uma situação de calamidade. Em casos de calamidade quais são as atitudes tomadas? Há aqueles que ficam quase indiferentes a situação. Há outros que se agarram com Deus. Há também aqueles que duvidam da existência de Deus ou do seu amor, caso ele exista. Outros se questionam se Deus não se compraz ao ver a dor e sofrimento dos seus. Há ainda aqueles que suplicam a Deus, mas não de modo sincero, procurando somente o seu interesse pessoal e material. Por fim, existem aqueles que semelhantes ao Povo de Israel, reconhecem haver pecado e pertencer a uma humanidade pecadora, e vê na prova não o castigo, mas a purificação e a Presença de Deus.
A provação faz voltar a Deus, confiar em sua aliança e em suas promessas; faz pedir perdão e esperar em sua providência. Nós precisamos aprender a reconhecer os nossos pecados, a confessa-los a Deus, que é Pai, através do Sacramento da Penitência, pelo qual a Igreja nos oferece o perdão divino, confiantes de que se o nosso coração ou consciência nos reprovar, “Deus é maior que o nosso coração” (Cf. 1Jo 3,19s).
Na Parábola do joio e do trigo (Cf. Mt 13,36-43), encontramos o semeador divino e o semeador maligno. Um traz consigo os herdeiros do Reino de Deus, o outro um exército de adeptos das coisas que não agradam a Deus e seus filhos. Nesta parábola lemos a história humana, dividida em dois exércitos opostos. Jesus insiste na descrição do juízo, no qual Ele purificará a sua Igreja de todo mal. O cristão deve ser trigo e não joio.
Deus é paciente. Se Ele fosse intolerante, o que seria de nós? Ele não é intolerante, mas não pode acolher o mal, por isso o repele. Ele detesta o pecado, mas ama o pecador que se arrepende de coração e quer mudar de vida, mas não pode amar e nem acolher aqueles que se identificam e se entregam ao mal, aqueles que se corrompem por causa do pecado.
Porém, a última palavra é sempre de Deus, o que constitui uma imensa esperança para todos nós, principalmente para aqueles que são oprimidos pelo mal, mas a Ele aderem; e também uma severa advertência para aqueles que oprimem e são discipulos do mal. O joio oprime e suga o grão bom. Na parábola o Reino é personificado naqueles que aceitam a paternidade de Deus, e o mal é personificado naqueles que o praticam obstinadamente.
Na realidade atual em que vivemos devemos distinguir com coerência o grão do joio do grão de trigo. Este é um risco muito grande que corremos, principalmente quando nos colocamos a julgar o que é bom e o que é mau ou quando respondemos com a intolerância e a impaciência aqueles que são discipulos do mal ou que o fazem mesmo inconscientemente. Postura de juiz não nos ajuda em nada em nossa conversão. A paciência de Deus que sabe separar o trigo do joio estimula à conversão.
Devemos entrar na dimensão da “paciência de Deus” e assim vivermos a nossa conversão diária, lutarmos contra as tentações e investidas do mal, certos de que o mal atormentará somente aqueles que o buscarem ou quiserem e afastá-los para sempre de Deus numa decisão bem clara e consciente, ao passo que o bem e a vontade de Deus tornará seus filhos luminosos como Ele e com Ele para sempre.
Sem. Rodolfo Marinho de Sousa
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