1. Nos primeiros relatos do livro de Rute, nós nos deparamos com um relato impressionante a respeito de sua família. A desgraça atinge a sua família! Seu sogro morre, seu cunhado e seu marido também. Todos os homens de sua família falecem, e ficam três mulheres sozinhas e indefesas: Noemi, Rute e Orfa. Em terra estrangeira se deparam com a dor, sofrimento e pobreza.
Diante do acontecido, percebendo que já não havia esperança, e que no estado em que se encontravam nada mais tinha jeito, Noemi decide voltar à sua terra natal, para junto do Povo de Israel, onde o Senhor mostrava claramente o seu cuidado e fidelidade.
Começa aqui um verdadeiro ato de fé, pois ao saber da situação de seu povo e de sua relação amorosa com o Senhor, ela não exita e volta o seu olhar e sua esperança para aquele que não lhe deixaria nada faltar: O Senhor Deus de Israel.
Porém, havia um problema: Rute e Orfa não pertenciam ao Povo de Israel, eram da tribo de Moab, portanto estrangeiras, e tinham outros deuses por “senhor”. Orfa decide votar ao seu povo e a seus deuses. Rute, porém, mesmo não pertencendo ao Povo de Israel, decide ir com sua sogra, Noemi, de encontro ao Povo de Israel, confiando no Deus de Israel que mal conhecia, e também pela fidelidade que trazia aos afetos familiares cultivados até então.
Rute escolheu seu caminho, e declarou a sua sogra: “Não insistas comigo para que te deixe e me afaste de ti. Porque para onde fores irei contigo, onde pousares, lá pousarei eu também. Teu povo será o meu povo, e o teu Deus será o meu Deus”. (Rute 1,16)
2. Desta narração nós tiramos duas lições:
Primeiro: Deus guia não só o seu povo, mas, também aqueles que a este não pertence, e os usa para que tenham um papel significativo na história da Salvação. Isto, sem dúvida vem de encontro ao esforço do Apóstolo Paulo na evangelização daqueles que não eram de descendência judaica (Cf Gálatas 2,7-9). Deus usa quem quer e como quer;
Segundo: o autor nos apresenta com a história de Rute, uma vida familiar exemplar: rica em fidelidade, solicitude mútua e afeição, mesmo diante de tragédias, provações e pobreza. Uma família onde há solidariedade entre os parentes, compreensão de valores e dotes; um verdadeiro elogio às virtudes da família.
Sem dúvida trata-se de um grande exemplo para nós, enquanto discípulos e missionários, mediante o batismo que nós recebemos, e também um grande exemplo para a nossas famílias e sua vivência diária.
Aprendemos aqui que a família é sempre a “base”, no sentido de ser, segundo a Palavra de Deus, escola de virtudes e caminho precioso onde se aprende o plano de Deus: “A virtude autêntica está na base da vida familiar e social: divisões e descriminações não entram no plano de Deus”. (Cf. Missal Cotidiano, Paulus)
3. A narração de Rute ainda nos remete ao Mandamento do Amor, que conhecemos como “o resumo” feito por Jesus dos Dez Mandamentos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento (...) amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Cf. Mateus 22,37-39).
O único critério do cristão para testemunhar o amor de Deus é o amor aos irmãos, no meio da sociedade, família, grupos e locais onde vive e freqüenta. Estamos falando de uma experiência do Amor de Deus.
Se não for assim, como testemunhar o Amor de Deus?
São Paulo vai nos dizer e ensinar que a “lei (mandamento) se cumpre no amor ao próximo” (Cf. Gálatas 5,14), e João vai direto na “ferida” quando nos diz que é preciso amar-nos uns aos outros, pois aquele que ama nasce de Deus e chega ao seu conhecimento (...) quem não ama não conhece a Deus, (...) como pode alguém amar a Deus sem vê-lo e não amar o irmão que está visivelmente ao seu lado? (Cf. I João 4).
Nem é preciso dizer que o Mandamento do Amor nos confronta. Meche com nossas feridas e orgulho, e nos lembra o quanto é difícil amar sem distinção! Mas, bem sabemos que é preciso amar. Para tal precisamos vencer barreiras, obstáculos, nosso orgulho, e fazer valer o cristianismo que professamos e que tem seu fundamento unicamente no amor: Amor de Deus manifestado no seu Plano de Salvação: Desde a criação deste mundo até chegar na Cruz de Jesus! Amor derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Cf. Romanos 5,5).
Portanto, para ser cristão o amor a Deus e ao próximo é condição fundamental!
Jesus é a expressão mais perfeita do Amor de Deus. Ele é o Amado, sabe amar, e ao amar nos mostra que o Amor de Deus se concretiza, se encarna no amor ao próximo. Rute preferiu seguir sua sogra Noemi a um Deus que ela mal conhecia e por amor àquela mulher que ela havia constituído laços familiares, e sem dúvida, ao contrário de Orfa, escolheu a melhor parte, e, entendeu, mesmo sem conhecer este Mandamento do Amor, que o Amor de Deus se encarna no amor ao próximo.
4. No amor está tudo, é ele, expressão do próprio Deus, que dá valor e sentido aos nossos atos.
O Amor a Deus e ao irmão, é exigência para que estejamos inseridos nos planos de Deus.
A salvação de Deus está no Amor que ele tem para conosco, a ponto de enviar-nos seu Filho, para que vivesse entre nós, sofresse, morresse e ressuscitasse para que tivéssemos vida plena em seu Amor (Cf. João 3,16).
Assim como Deus se revela no Amor, o homem também só pode se realizar no amor. E não qualquer amor, mas, um amor que abrange tudo o que é e tem, e, sobretudo, sua família, seu lar. Este amor não pode ser outro a não ser o Amor de Deus.
Isto é experiência do Amor de Deus!
Texto escrito para a Celebração da 20ª. Sexta feira do Tempo Comum (21.08.2009)
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