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sábado, 13 de março de 2010

Estudo sobre a Didaché - Parte III: Celebração da Vida (Cap. 7 a 10)


B.  Segunda Parte: Celebração da Vida.
(Capítulos 7 a 10)

A segunda parte da Didaché constitui o ritual litúrgico das primeiras comunidades, com instruções para a administração do Batismo, orientações sobre o jejum e a oração e sobre a Celebração Eucarística.

1. O Batismo
7,1Quanto ao batismo, procedam assim: Depois de ditas todas essas coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. 2Se você não tem água corrente, batize em outra água; se não puder batizar em água fria, faça-o em água quente. 3Na falta de uma e outra, derrame três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. 4Antes do batismo, tanto aquele que batiza como aquele que vai ser batizado, e se outros puderem também, observem o jejum. Àquele que vai ser batizado, você deverá ordenar jejum de um ou dois dias”. (Didaché 7,1-4). (Cf. Mt 28,19)
Na administração do Batismo encontramos muitas semelhanças com o modo como procedemos hoje na Igreja.
O Batismo era administrado nos primeiros séculos após uma etapa de catequese, representada na primeira parte do Didaché, que como sabemos consistia no anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. A cerimônia era realizada em comunidade, com o uso de um ritual simples que se define no “Batismo com água e à invocação a Trindade”.
O texto nos mostra que o mais usual era a imersão em água corrente, ou seja, em rios, ou “em outra água”, provavelmente piscinas ou reservatórios. Caso deste modo fosse impossível, a Didaché determina que se derrame três vezes água sobre a cabeça do batizando.
Após a etapa de catequese, obviamente necessária, pois, já neste tempo havia a concepção de que o Batismo fazia a pessoa ingressar na família de Deus, embora isto não esteja definido ainda, o batizando, aquele que administrava o batismo e provavelmente a comunidade jejuava. O jejum e a instrução nos mostram que o Batismo era concedido somente a pessoas adultas, e sua administração não se restringia a um ministro em especial, portanto, qualquer batizado da comunidade poderia conceder o Batismo a alguém não batizado.

2. O jejum e a oração
8,1Que os jejuns de vocês não coincidam com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Vocês, porém, jejuem no quarto dia e no dia da preparação. 2Não rezem como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou no seu Evangelho. Rezem assim: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome, venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia, perdoa a nossa dívida, assim como também nós perdoamos aos nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o poder e a glória para sempre”. 3Rezem assim três vezes ao dia”. (Didaché 8,1-3). (Cf. Mt 6,9-13; Lc 11,2-4)
Jejum e oração, desde o Antigo Testamento estão intimamente ligados. É assim também com as primeiras comunidades que conservaram estas duas práticas.
O jejum, longe de ter a finalidade de privar os cristãos de alguns alimentos e bens, lembra ao mesmo que existe uma fome maior que a de alimentos, que só a vinda do Reino de Deus pode satisfazer. A oração é entendida como abertura a Deus, ou seja, o orante está aberto a Deus e ao seu projeto e consciente dos pedidos essenciais, manifestados no “Pai nosso”, para que este projeto aconteça. Deste modo estão unidos jejum e oração, pois, o cristão eleva a Deus o clamor para que venha o seu Reino, a fim de que este, com sua justiça liberte o mundo de todas as fomes.
O fato da Oração do Senhor estar citada no texto nos mostra que desde os primórdios tal oração é a oração por excelência dos cristãos e modelo de qualquer outra oração que a comunidade ou o Cristão possa dirigir a Deus. A Instrução “Rezem assim três vezes por dia” é conservada até hoje pela Igreja que de fato reza o Pai nosso três vezes ao dia: por ocasião da Oração das Laudes, logo cedo; por ocasião da Oração das Vésperas, no fim da tarde; e na celebração do Sacrifício eucarístico.

3. A celebração eucarística
 “9,1Celebrem a Eucaristia deste modo: 2Digam primeiro sobre o cálice: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre”. 3Depois digam sobre o pão partido: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre. 4Do mesmo modo como este pão partido tinha sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para se tornar um, assim também a tua Igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino, porque tua é a glória e o poder, por meio de Jesus Cristo, para sempre”. 5Ninguém coma nem beba da Eucaristia, se não tiver sido batizado em nome do Senhor, porque sobre isso o Senhor disse: “Não dêem as coisas santas aos cães”. (Didaché 9,1-5) (Cf. Mt 18,20. 26,26-28; Jo 6; I Cor 11,17-34; “Seqüência de Corpus Christi).
É óbvio ao ler o texto que a Eucaristia nele mencionada é bem diferente daquele rito eucarístico que nós conhecemos e celebramos hoje. Provavelmente neste momento da vida da Igreja não existisse ainda uma fórmula fixa de celebração, mas, o texto nos deixa claro uma coisa: A Eucaristia era celebrada em comum, provavelmente dentro de uma refeição, o que caracteriza familiaridade, e só podia ser participada pelos batizados, que instruídos na fé, se haviam comprometido com o projeto de Jesus.
Ou seja, as primeiras comunidades entenderam o mandato de Jesus de celebrar o seu memorial até a sua volta, e que só podiam “comungar da ceia” aqueles que se comprometessem com a sua causa. Há também neste contexto o destaque do aspecto da Eucaristia como Sacramento de unidade da Igreja, ou seja, os que tomam a ceia se tornam participantes de um só corpo em comunhão com todos os que aderem o Cristo e recebem o batismo em seu nome.
A Eucaristia, ao longo da História da Igreja irá ganhar novos significados, e o modo de celebrá-la irá evoluir também. Porém, uma coisa é certa, desde o inicio do cristianismo era considerada como o coração da comunidade, e como sinal eficaz e real da presença de Jesus no seio da mesma.

4. Agradecimento depois da Eucaristia
10,1Depois de saciados, agradeçam deste modo: “2Nós te agradecemos, Pai Santo, por teu santo Nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelastes por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre. 3Tu, Senhor Todo-poderoso, criastes todas as coisas por causa do teu Nome, e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, pra que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espiritual, e uma vida eterna por meio do teu servo. 4Antes de tudo, nós te agradecemos porque és poderoso. A ti a glória para sempre. 5Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre. 6Que a tua graça venha, e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Quem é fiel, venha; quem não é fiel, converta-se. Maranatá. Amém”. 7Deixem os profetas agradecerem à vontade”. (Didaché 10,1-7). (Cf. Mt 21,15; I Cor 16,22; Ap 22,20).

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