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quarta-feira, 17 de março de 2010

Cantar a Quaresma e a Semana Santa


Por Ir. Mirian T. Kolling

Cada ano, a Igreja se une ao mistério de Jesus no deserto, durante quarenta dias, vivendo um tempo de penitência e austeridade, de conversão pessoal e social, especialmente pelo jejum, a esmola e a oração, conforme o Evangelho de Mateus (Cf. Mt 6,1-6.16-18), proclamado na Quarta Feira de Cinzas, em preparação às festas pascais.
Neste contexto se configura a Quaresma: São cinco domingos mais o Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, que inicia a Semana Santa, também chamada Semana Maior. É este um tempo forte e privilegiado, em que fazemos nosso caminho para a Páscoa, renovando nossa fé e nossos compromissos batismais, cultivando a oração, o amor a Deus e a solidariedade com os irmãos. Tal austeridade deve se manifestar no espaço celebrativo, nos gestos e símbolos, como também no canto, para depois salientar a alegria da ressurreição, que transborda na Páscoa do Senhor:
• A cor roxa, as cinzas e a cruz lembram o caráter penitencial, de conversão;
• O espaço celebrativo deve ser sóbrio, sem ornamentação nem flores no altar;
• Não se recita nem se canta o “Glória”, assim como o “Aleluia”, que são aclamações jubilosas, marcadas pela festa e alegria, o que não combina com a Quaresma;
• É tempo de favorecer o silêncio musical. Por isso, os instrumentos devem acompanhar os cantos de forma discreta, somente para sustentar o canto; um teclado ou um violão apenas, silenciando os demais, para manifestar o caráter penitencial desse tempo. Sua função é apenas “prática”, na medida do necessário, para apoiar o canto;
• Cada tempo litúrgico tem seus cantos próprios; assim também a Quaresma. Cantos que expressem o conteúdo, os temas, a Palavra de Deus, enfim o aspecto do mistério pascal que celebramos. É preciso saber escolher bem os cantos, que acentuem a conversão, o perdão, a fraternidade e solidariedade, a vida, a luz, inspirados no Evangelho do dia. Mas sempre com os horizontes voltados para a Páscoa de Jesus, mistério central que celebramos em nossas liturgias.
• Neste tempo acontece no Brasil, já há mais de 40 anos, a Campanha da Fraternidade, que propôs, durante muito tempo, também cantos apropriados ao tema de cada ano, o que foi uma riqueza, mas também limitou o repertório dos cantos quaresmais. A partir de 2006 está havendo um esforço para se cantar o espírito e a liturgia da Quaresma, compondo-se apenas um Hino, que pode ser cantado no início ou no final da Celebração. A CNBB, em parceria com a Paulus, tem gravado uma série de CDs do chamado “Hinário Litúrgico”, apropriados para o Ano A, B e C.
• Cantos tradicionais e que já estão na memória do povo, devem fazer parte do repertório, como “Pecador, agora é tempo”, “O vosso coração de pedra” e “Prova de amor maior não há”;
• Não se cante o Abraço da Paz, que, aliás, nem faz parte do rito, mas valorize-se o canto que acompanha a fração do pão, o “Cordeiro de Deus”, pois Jesus é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. O “Senhor, tende piedade de nós” também seja valorizado, além das aclamações e pequenos refrãos orantes. O chamado canto final poderia ser omitido, deixando o povo sair em silêncio. Poderia ser outra também a resposta à Oração dos fiéis, que em geral é “Senhor, escutai a nossa prece”, como por exemplo: “Jesus, Filho de Deus, tem compaixão de nós!” além de outras, sugeridas pelo Missal Dominical;
• É importante intensificar o silêncio, criando um clima orante já antes do início da Celebração e ao longo da mesma. Sobretudo no Ato penitencial, na Oração da Coleta, entre as leituras, durante a Narrativa da Última Ceia, após a Comunhão...
A Quaresma desemboca na Semana Santa assim chamada, porque nela celebramos os momentos mais importantes da nossa salvação: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único... Tendo amado os seus, amou-os até o fim.” (Jo 3,16;13,1). Diz-nos Evair H. Michels, em seu livro “Pastoral da Música Litúrgica – Dicas Práticas”: “Os ritos da Semana Santa devem ser realizados com particular solenidade, pois este tempo é o coração do ano litúrgico.”

“Cantar a quaresma é, antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo, que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo... É um canto de luto, um canto sem ‘glória’ e sem ‘aleluia’, um canto sem flores e sem as vestes da alegria, um canto ‘das profundezas do abismo’ em que nos colocaram nossos pecados (Sl 130); um grito penitente de quem implora e suplica: ‘Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade, e conforme a vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade’(Sl 51,3)”. (CNBB, Hinário Litúrgico, fascículo 2, p. 5)

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