As narrativas de chamado estão entre as mais vivas e impressionantes páginas bíblicas, pois elas nos revelam Deus em sua majestade e mistério que quer contar com o homem em tudo que o mesmo homem é: um misto de verdade, medo e generosidade, levando em conta, inclusive, as possibilidades do homem quanto à resistência e aceitação diante do chamado de Deus.
Estamos falando de vocação, e vocação é chamado: Deus chama, ao homem cabe responder... Na vocação humana quando respondida afirmativamente se faz presente à vontade e o plano de Deus.
Todo homem que se encontra no mundo está em estado de vocação, ou seja, é chamado por Deus. Nos acontecimentos da vida humana Deus chama cada homem e mulher à existência para esta vida e a participar de um plano de amor “particular” que Ele prepara a cada um dos seus filhos.
Assim como a existência de cada um, a vocação também é um chamado pessoal, pois da mesma forma que Deus nos dá a existência de modo particular e a cada um, Ele também fala (chama) pessoalmente a cada um.
Deus nos fala, nos chama, e ao ouvir sua voz, a nossa parte é descobrir a nossa vocação, passo que nos leva a compreender o plano de vida que Deus tem para cada um de nós, porque a iniciativa é sempre Dele: É Ele que chama!
Ele nos chama pelo nome, assim como chamou a Samuel, que em um primeiro momento não compreendeu o que se passava, tanto que ele achou que era o sacerdote Eli que o estava chamando, que, por sua vez entendeu que era o Senhor que chamava Samuel e o orientou a responder com disposição àquela voz (Cf. I Sm 3,3-9).
Embora consagrado a Deus desde o ventre materno (Cf. I Sm 1,9-20), Samuel ainda não conhecia o Senhor, embora penetrasse no mistério pouco a pouco por habitar no Santuário e ser instruído por Eli, mas, ainda não havia tido uma experiência pessoal com o Senhor.
Uma vez que Samuel compreendeu que aquela voz era o Senhor que o chamava, se põe disponível. Chamado pelo nome ouve a Deus e brada: “Fala, que teu servo escuta” (I Sm 3,10c). Pronto! A experiência pessoal com o Senhor aconteceu: Ele chamou, Samuel respondeu, e posteriormente ele será constituído profeta do Povo de Deus.
Deus também nos chama pelo nome e nos convida a viver uma vocação fundada em seu plano de amor e em sua vontade.
Independente de como a vocação irá se desenrolar em nossa vida, a resposta deve ser a mesma de Samuel: “Fala Senhor, que teu servo escuta”, ou simplesmente “Eis-me aqui para fazer a vossa vontade” (Cf. Sl 39,8-9), ou ainda como Maria: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Cf. Lc 1,38), tendo em mente três elementos fundamentais:
1º. Vocação é serviço, é missão; é colaborar com Deus em seu plano de salvação, pois a vocação de cada um se encontra na vocação de um só povo, a Igreja – a Eleita – chamada a ser luz para as nações;
2º. Vocação é resposta a Deus, não “em palavras”, mas a resposta é a própria pessoa em sua identidade e auto-realização; é fidelidade a si e a Deus na vivência da Palavra, dos sacramentos e dos costumes e valores cristãos, pois assim Deus a chamou a “SER” instrumento do seu amor.
3º. Todo homem pertence a Deus, pois traz em seu corpo o Santuário do Espírito Santo (Cf. I Cor 6,19). Portanto, é chamado a responder com a vida.
João Batista veio para dar testemunho da luz, que é Cristo, e o aponta dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36). Aceitar o testemunho do batista significa seguir e buscar a Jesus, como fizeram seus discipulos. O testemunho destes, por sua vez, atrai Pedro e outros e assim sucessivamente. O desejo dos discipulos é “ficar com Jesus”, por isso perguntam onde Ele mora e diante da resposta “Vinde ver”, passam a seguir Jesus. Aqui encontramos “traços” de vocações que se abriram ao contínuo aprofundamento da fé, a partir da experiência do encontro pessoal com Jesus.
Portanto, vocação também é testemunho! Testemunho firme e engajado, que “contagie” os que estão a redor e os põe igualmente no seguimento de Jesus. Aliás, vocação sem testemunho não é vocação, pois como diz o ditado popular: “palavras movem, testemunhos arrastam multidões”.
Faz parte de nossa vocação testemunhar, ou seja, apresentar a outros “este Jesus que mudou nossas vidas”, para que a vida de outros sejam transformadas e assim por diante outros e outros sejam transformados pelo Senhor. Este é o poder do testemunho, quando encarnado à vocação.
Na Eucaristia está a conclusão da nossa resposta ao chamado de Deus. Em cada Eucaristia renovamos a nossa resposta ao chamado de Deus, que nos chama pelo nome a colaborar com o seu plano de salvação, testemunhando o que Ele fez em nosso favor e confirmando a nossa vontade, empenho e compromisso de realizar a missão para a qual Ele nos chamou.
Que assim, sem reservas, esgotemos nossas vidas!
Sem. Rodolfo Marinho de Sousa
2º. Domingo do Tempo Comum – Ano B (Evangelista São Marcos)
São Paulo, 15 de Janeiro de 2012.
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