O livro do Deuteronômio traz à luz diversos temas: os deveres do rei, a obediência a Lei de Deus, o sacerdócio Levítico e o profetismo, dentre outros temas.
Em relação ao profetismo, o Deus de Israel promete suscitar entre o povo, profetas (Cf. Dt 18,15-20) que dêem continuidade à mensagem de Moisés, considerado o primeiro profeta do Antigo Testamento.
O profeta é aquele que fala em nome de Deus, que não tem comprometimento com o poder político ou religioso, pois é exclusivamente um “porta-voz” de Deus: “Farei surgir para eles, do meio de seus irmãos, um profeta semelhante a ti. Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar”. (Dt 18,18).
Por isso o profeta é mediador do Absoluto, portador fiel da Palavra de Deus e não um adivinho ou vidente, pois o profetismo está inserido na necessidade do anúncio da Palavra de Deus e leva o homem a encontrar-se com a verdade e a vontade de Deus.
O profeta é aquele que incomoda, pois denúncia com freqüência tudo o que afasta o homem da vontade de Deus, como os falsos valores e a falsa moral, a mentira, os hábitos vazios, o culto externo e aparente cheio de hipocrisia e injustiça, quando este ultima deveria ser feito com amor e tendo uma finalidade só: a maior glória de Deus.
O profeta é aquele que vem para “mexer” na zona de conforto do homem, pois ele é constituído por Deus “para arrancar e demolir, para destruir e abater, para edificar e plantar” (Jr 1,10).
Por isso que se diz que um profeta nunca é bem recebido em sua pátria, pois ele causa mais desencontro do que encontro, ele vem para incomodar, torna-se perigo para aqueles que estão somente atentos à sua própria vontade e deixam de lado a vontade e a verdade de Deus.
Devemos tomar cuidado, portanto com aqueles que são falsos profetas, que pensam portar a Palavra de Deus, quando apenas ecoam palavras humanas e usam da Palavra de Deus para se auto-promover (Cf. Dt 18,20).
Jesus é o grande profeta. Em Cristo encerram-se as profecias do Antigo Testamento e inicia-se o tempo das promessas, pois é Nele em que se revela e se realiza o plano de Deus sobre a humanidade.
O evangelho nos deixa claro que Jesus ensina com autoridade e é esta mesma autoridade que o fará realizar os milagres, curas, sinais, como sinais proféticos de sua missão e da edificação do Reino de Deus (Cf. Mc 1,21-28).
Junto a esta realidade está a Promessa de um novo tempo, uma nova realidade, um novo povo nascido e marcado pelo seu Sangue derramado na Cruz.
Os profetas de hoje, quem são? Somos nós que fazemos parte da Igreja, que portamos e vivemos a Palavra de Deus e somos chamados a ser pelo testemunho “sinais proféticos” para este mundo da comunhão necessária com Deus para a salvação.
O Espírito Santo nos motiva a denunciarmos profeticamente o mal e a violação dos costumes morais e cristãos, as ideologias que tiram do centro da vida do homem e a vontade e a verdade de Deus, as explorações mais diversas e a falta de respeito à vida e a dignidade humana.
Se posicionando deste modo, com ousadia e audácia, nós que somos Igreja, seremos mais que profetas, seremos nos lábios do Cristo a própria profecia que clama ao mundo por fidelidade, conversão e santidade.
A profecia é dom de Deus à Igreja, um dom que incomoda, pois acusa o nosso comodismo ao mesmo tempo em que nos convida a deixarmos as nossas seguranças e ídolos. E é necessário fazer este caminho para alcançarmos a salvação.
Por isso peçamos ao Pai que suscite em nós o espírito de profetas e que Ele envie à sua Igreja muitos profetas, que sejam sinal de santidade e nos ajude cada vez mais a termos coragem de ouvir e por em prática a Palavra de Deus, fonte de vida e verdade.
Não tenhamos medo de “profetizar”, de incomodar, pois quando estivermos incomodando este será o sinal de que estamos vivendo e realizando a Vontade de Deus.
Sem. Rodolfo Marinho de Sousa
4º. Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 29.01.2012
Imagem: Profeta Isaías tendo os lábios tocados pelas brasas do altar
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