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sábado, 9 de julho de 2011

A Horta do "Sêo" Justino

Reflexão para o Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum (Ano A), a partir do Evangelho de Mateus 13,1-23.

Quando morávamos á rua Antonio Fernandes, na minha adolescência (já faz tempo), meu pai mantinha no fundo do nosso quintal uma modesta horta que se resumia a três canteiros, porém muito bem cuidados, e em certas tardes de intenso calor, lembro-me dele, armado com um velho pano de enxugar pratos, espantado borboletas amarelas e pardais que insistiam em assentar sobre o canteiro. Eu me divertia em ver a seriedade com que fazia essa tarefa e um dia, percebendo que era alvo da minha atenção, fez um comentário que está bem ligado ao evangelho desse domingo “A terra é boa, está bem regada e adubada, e a semente das verduras é de ótima qualidade, mas se a gente abandonar o canteiro e não dar atenção, os passarinhos comem tudo e as borboletas amarelas irão praguejar as folhas”. 
E assim, o “Teólogo” Sêo Justino, me ensinava desta forma bem simples, que tudo o que é bom, além de cultivado, deve ser mantido e conservado, porque há fatores externos que destroem o que foi semeado. No tempo de Jesus, a técnica de plantio de sementes sofria muita perda, pois o semeador saia pelo campo, jogando as mesmas em todos os tipos de terreno, claro que hoje, com toda a tecnologia disponível na agricultura, o aproveitamento das sementes é cem por cento, e elas só são atiradas em locais preparados para o plantio, não havendo mais esse perigo de cair em terra improdutiva. 
Porém, o jeito tecnicamente errado de fazer a semeadura, por aqueles tempos, mostra de maneira bem clara a bondade de Deus, que quer salvar a toda humanidade e por isso, o seu Filho Jesus, lança as sementes do reino em todos os tipos de terrenos, existentes no coração humano, a semente é eficaz, e o semeador sabe muito bem o que está fazendo, pois se a terra árida, pedregosa ou espinhenta, aonde foi lançada a semente, passar por uma transformação, haverá grande chance da semente frutificar. 
Jesus não fica escolhendo as pessoas para anunciar sua palavra e plantar o reino em seu coração, todo homem tem acesso, e não passará por esta vida sem conhecer a palavra que é a todos revelada, pois Deus busca, procura e alcança a cada homem neste mundo. Uma outra comparação muito boa para compreender esta parábola, é lembrarmos daquela brasinha de final de churrasco, que sobrou na churrasqueira e tendo passado a noite inteira, no dia seguinte, ao remexer as cinzas lá está ela, basta um sopro e se transformará em chama nova que incendeia e aquece em redor, a semente está sempre plantada dentro de nós a espera de quem a ajude a germinar. 
Na verdade, o evangelho nos obriga primeiramente a olhar para dentro de nós, onde iremos nos surpreender ao constatar que em nosso coração, a semente da palavra de Deus sempre é jogada abundantemente em todas as celebrações, e que apesar de sua eficácia e potencial para frutificar, muitas vezes não germina, pois há muita terra seca, batida e pedregulhos, que não a deixa brotar, há muito espinho que sufoca o anúncio dentro de nós, além dos pássaros, que são aqueles ideais contrários ao reino de Deus, e que de maneira furtiva, entram em nosso coração e roubam a semente do bem. 
Mas se por um lado recebemos a semente continuamente, somos também enviados como missionários para semear a Boa Nova no coração das pessoas, e aí precisamos nos perguntar com muita honestidade, será que fazemos como Jesus, o Filho de Deus, espalhando a semente em todos os corações, sem se importar com o tipo de terreno que tem ali, ou só queremos semear em terra fértil? O verdadeiro missionário está sempre arriscando, pois o que importa é espalhar as sementes para que todo homem tenha a chance de conhecer a Jesus Salvador. 
Só iremos dar conta dessa missão se primeiramente soubermos cultivar em nós a boa semente da Palavra, estando atento a cada instante, revolvendo a terra com o arado da oração, adubando-a com o verdadeiro maná que é a Santa Eucaristia, para assim manter o nosso canteiro, vivendo na unidade e a comunhão com todos, espantando, como fazia meu pai com aquele pano de prato, qualquer mal que possa impedir a semente de brotar em nosso coração, estando assim bem vigilante para fazer o bem, em todas as oportunidades que Deus nos conceder nessa vida. E por último, vamos também refletir e entender, que em todas as nações, povos, culturas e religiões, Jesus, o Verbo Divino encarnado em nossa história, semeou a palavra e o seu Reino, e assim, iremos reconhecer na diversidade de culturas, nações e religiões, a presença fortalecedora e restauradora do Bem supremo, que brota do coração de Deus, e em Jesus atinge o coração de todo homem, transformando o que é seco em fertilidade, o pedregulho em fertilizante de primeira qualidade, e os malfadados espinhos, em belas flores que exalam para todos o perfume do amor de Deus, derramado em nós por Jesus Cristo...

Diacp. José da Cruz

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