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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A opção fundamental (Reflexão para o 23o. Domingo Comum - Ano C)

Quem durante a infância ou adolescência, não brincou em uma casa inacabada? Na minha rua tinha uma que nos abrigava após as malandragens, só tinha uma parte do telhado e buracos disformes em lugar das portas e janelas. Invadida pelo matagal tornara-se um depósito de lixo, virando ainda esconderijo de casais mal intencionados e de bandidos de outras plagas que ali pernoitavam. É para isso que serve uma casa inacabada, para ser usada para o mal. Poderia ser uma bela casa e abrigar uma família de bem, mas acabou ficando daquele jeito, escura, triste, feia e abandonada, e tudo por falta de planejamento do seu construtor, que não teve o bom senso e a prudência de sentar-se para elaborar o orçamento, planejando o início e o término da obra, que desta forma tornou-se um testemunho vergonhoso contra ele.
Na outra parábola desse evangelho, Jesus é ainda mais claro, qual o rei que antes de sair para o combate, primeiro não se senta para avaliar se valerá a pena marchar contra o inimigo que vem com um exército numericamente superior, e depois envia mensageiros para negociar a paz? Em qualquer empreendimento humano é necessário um planejamento para atingirmos a meta. Em nossos trabalhos pastorais e, sobretudo na missão fundamental de evangelizar, pecamos muito por falta de planejamento, esse também é o pecado de algumas pastorais e movimentos, pois nem sempre nossos planos pastorais são levados a sério e daí, é claro que os resultados nem sempre serão os esperados.
Em resumo o evangelho quer nos ensinar que antes de tomar uma decisão importante, é preciso pensar e refletir, porque depois da decisão tomada, haverá conseqüências às quais temos que assumir. Um exemplo claro disso é o casamento, onde muitos casais recebem o sacramento, mas não têm consciência sobre o que estão assumindo e daí não perseveram na vida a dois e o casamento se transforma em uma casa velha, inacabada, que só trará desgosto e aborrecimento.
Pode assim entender por que as palavras de Jesus parecem ser tão duras e exigentes neste evangelho! No meio da multidão dos seus seguidores, e também nas comunidades de Lucas, havia muitas pessoas que ainda não tinham entendido o que é ser cristão, pois Jesus e seu evangelho não são apenas uma opção a mais, mas é a única e verdadeira opção para quem quer ser discípulo.
Ser cristão não é poder escolher em uma vitrine, algumas virtudes, ideologias ou tendências que mais nos agradem. Infelizmente há muitos que agem desta forma e acabam fragmentando o evangelho e os ensinamentos cristãos, idealizando a imagem de um Jesus Cristo mais "Light", esquecendo-se que Cristo não é apenas a parede da casa, mas o alicerce sobre o qual construímos a nossa existência e tudo se fundamenta nele: nossa relação com os outros, tudo o que somos e temos, absolutamente nada deve ficar fora do ideal cristão! É isso que Jesus quer dizer com a palavra desapego e renúncia, que não significa abrir mão de tudo que se tem, mas sim colocar o reino de Deus acima de todas essas coisas, até mesmo das relações afetivas com os familiares, simplesmente porque tudo o que temos e somos nesta vida é transitório e efêmero diante do Reino.
Há cristãos que planejam mal a sua vida de fé, muitas vezes almejam a glória da ressurreição tentando cortar por atalhos o caminho do calvário, esquivando-se da cruz que nos pertence, mas que o Senhor carregou por todos nós. Este é na verdade o grande perigo desse cristianismo da modernidade, ser discípulo de um Cristo sem cruz, onde não precise fazer renúncias e nem desapegos, onde não seja necessário tomar decisão radical a favor do evangelho e nem ser tão exigente conosco, no campo da ética e da moral.
As renúncias devem estar presentes em nosso dia a dia, como conseqüência natural de quem fez uma opção fundamental por Jesus, trata-se de uma escolha que se iniciou no dia do nosso batismo, quando pais e padrinhos falando em nosso nome, confiantes no efeito da graça de Deus em nossa vida, prometem solenemente naquele dia RENUNCIAR todas as forças do mal, contrárias ao reino que Jesus inaugurou.

Diácono José da Cruz
Do informativo Gotas da Palavra 

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