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domingo, 12 de setembro de 2010

A Misericórdia Divina (Reflexão para o 24o. Domingo do Tempo Comum, Ano C)

Eu gostava de colecionar bolinhas de gude e cheguei a ter quase mil unidades, mas havia uma opaca, de cor avermelhada e amarela que parecia uma pedra preciosa e era a minha predileta. Um dia dei pela falta da minha jóia rara e fiquei alguns dias “amuado” e minha mãe, vendo a minha súbita tristeza, lembrou-me que eu possuía mil, ela não compreendia que aquela era minha predileta, cuja beleza todos os meninos da região admiravam, mas ela era unica e toda minha. Uma semana depois de intensa procura, acabei encontrando-a no fundo do quintal e minha alegria foi tão grande que sai pulando pela calçada e adentrei pela casa, para que todos soubessem que havia achado a minha bolinha perdida. 

Minha mãe, que nada entendia de bolinhas de gude raras, não entendia minha predileção por aquela bolinha especial, e talvez achasse que era uma perda de tempo dar tanta atenção a uma só deixando de lado as outras mil. É essa a linha de raciocínio das parábolas apresentadas no evangelho desse domingo, da moeda perdida, da ovelha desgarrada e do Filho pródigo. 

A diferença está que para mim, aquela bolinha era especial e valia mais que as outras, porque era mais bonita e tinha um atrativo a mais, a moeda que a mulher havia perdido era igual às outras, mas não estava mais diante dos olhos de sua dona, a ovelha nada tinha de diferente das demais, porém estava perdida, sem abrigo e sem alimentação, foram essas as preocupações da mulher e do proprietário das ovelhas. O coração de Deus também é assim, ama de um modo pessoal e especial a cada ser humano, assemelha-se aquela mãe que só consegue dormir quando chega o último dos filhos na madrugada. 

Em nossa sociedade predomina um modo de pensar que é contrário, achamos que é perda de tempo dar atenção a quem não tem talento, a quem não é direito, a quem enveredou pelo caminho do mal, a quem se perdeu nas drogas e nos vícios, a quem destruiu a família, a quem não estuda e nem trabalha, e no campo religioso, a quem se tornou pecador e não parece disposto a converter-se. “Esse fulano não tem jeito, esse sujeito é irrecuperável, para esse não adianta falar de Jesus” quantas vezes não ouvimos afirmações como essa, na escola, na família, e até na comunidade! Tem muito cristão encabeçando lista a favor da pena de morte. Será que vale a pena falar de Deus a um traficante, falar sobre o amor manifestado em Jesus a favor de todos e de cada homem? Quantas ovelhas desgarradas, quantas moedas perdidas, quantas bolinhas de gude, lindas, feitas a imagem e semelhança do Criador, que estão apenas sujas, desfiguradas, jogadas em um canto qualquer. 

As pessoas facilmente desistem da vida, do amor, desistem de viver bem com outras pessoas, cada um quer fazer as malas e tomar o seu rumo, viver de maneira desenfreada, sem virtudes e sem compromisso, achando que irão assim encontrar a felicidade, quem desiste de amar, jamais será feliz! A falta de amor nos faz passar fome, e nos joga na miséria, fomos criados para viver no amor e Deus é a fonte que nos alimenta, longe dele, a nossa vida perde totalmente o seu sentido. 

Há um filho pródigo em cada um de nós, que se ilude correndo atrás dos amores fantasiosos que o mundo nos oferece, não temos noção do quanto o Pai nos ama, não percebemos que moramos na casa de Deus e que o seu coração de Pai nunca para de bater por nós. Sempre há um dia que deparamos com o vazio, diante das “lavagens” de porcos que não nos alimenta. Voltamos para a casa do pai na condição de mendigos, sujos, rasgados e cheirando mal, e o Pai, mal nos avista vem correndo ao nosso encontro, nos abraça apertado e nos cobre de beijos, não se importando que estejamos impuros, joga sobre nossa miséria uma túnica branca, alvejante e perfumada, veste nossos pés imundos com uma sandália e em nosso dedo coloca um anel. 

E o filho mais novo, que papelão! Achou que sua conduta irrepreensível o fazia merecedor do amor do pai, relacionava-se com ele como com um patrão, não reconhecia o outro como irmão e por isso recusou-se entrar para comer, beber, dançar e se alegrar com a volta do mais novo. Por acaso não somos um pouco assim? A nossa prática religiosa, seja lá de que igreja ou crença for, não nos faz muitas vezes olhar os “afastados” com certo desdém? 



José da Cruz - Diácono permanente da 
Paróquia Nossa Senhora Consolata- Votorantim 
cruzsm@uol.com.br
Do informativo  Gotas da Palavra

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