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sábado, 16 de maio de 2009

Graça e Pecado - Purgatório, Céu e Inferno.


Vamos refletir a seguir sobre cinco temas que nos parecem diferentes, mas que na verdade estão mais que unidos entre si: Graça, Pecado, Purgatório, Céu e Inferno.
Já podemos dar um passo adiante em nossa reflexão dizendo que dependendo do que se vive e de como se vive o ser humano já direciona o seu caminho rumo ao seu fim último, que dependerá tão somente de suas escolhas. Se viver na Graça de Deus, certamente terá como prêmio o céu, mas, se optar pelo pecado, não se importando ou não lutando contra ele, dificilmente o homem terá como morada definitiva o céu.
Voltando ao que dizíamos em primeiro lugar, vejamos a seguir um pouco a definição de cada uma destas realidades que iremos abordar. Seriam necessárias muitas horas de estudo e muitas páginas para abordarmos amplamente cada um destes temas, no entanto, vamos nos prender no que é essencial em cada um para nós, neste momento de “Catequese”.
Prossigamos.

I – A Graça e o Pecado

1. A Graça
Como citamos acima, seriam necessárias horas e horas, estudos e mais estudos para compreendermos largamente o que significa a “Graça”, visto que o Catecismo da Igreja nos indica ela de diversos modos e em diferentes realidades e momentos da Doutrina, basta olharmos no “Índice Analítico” do Catecismo para percebermos a amplitude do tema.
Nós iremos nos deter na definição e significação da graça e a estudaremos neste momento como Vida Divina.

A) Definição e Significação da Graça
O Catecismo da Igreja nos ensina que a nossa justificação vem da graça de Deus.
Mas, o que é a graça? A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite de tornar-nos filhos seus, participantes de sua natureza divina como herdeiros da vida eterna (Cf. CIC 1996).
O Catecismo continua a nos ensinar, dizendo que a graça é participação na vida divina, que ela nos leva a intimidade com o Deus Uno e Trino. E ainda nos diz que por meio do Batismo temos parte na graça de Deus, por meio do Cristo Jesus (Cf. CIC 1997).
Pela graça de Deus, dada gratuitamente a nós, somos chamados à eternidade, portanto, temos vocação à Vida Eterna. Vocação esta que nasce no dia do nosso batismo, onde recebemos da parte do próprio Deus a graça santificante, ou seja, a graça do Cristo Jesus, dom gratuito do Pai, pelo Espírito Santo que vem em nosso auxilio para curar a nossa alma do pecado e para santificá-la (Cf. CIC 1998-1999).
Podemos ainda dizer que quando nós nos encontramos na graça de Deus, longe do pecado, estamos em estado de graça, ou seja, revestidos da graça de Deus, revestidos do Cristo Jesus, revestidos do Espírito Santo. O estado de graça é aquele em que nós compreendemos que somos “novas criaturas”, onde as coisas antigas passam, ficam para trás, e nós nos transfiguramos, ou seja, é como se nascêssemos de novo para Deus (Cf. II Cor 5,17-18).
B) Como recebemos esta graça?
(CIC 694; 1131)
De vários modos, mas, especialmente pelos sacramentos, sobretudo, pelo Sacramento do Batismo. Os Sacramentos são sinais eficazes da graça, nos ensina o Catecismo da Igreja, e por meio deles é doada a nós a vida divina. Cada sacramento tem sua graça própria, e por isso cada um deles tem um rito diferente. Eles produzem numerosos frutos na vida daqueles que se dispõe a recebê-los desde que haja abertura de coração e consciência de que se trata muito mais do que um simples sinal, mas, sobretudo, do derramamento da graça de Deus sobre a vida de quem os recebe.

C) A vida Divina
(CIC 52; 375; 541; 760; 1254; 1279; 1697; 1997)
Já dizemos que a Vida divina chega até nós por meio do Batismo. Pois bem, após o Batismo, a fé deve crescer na vida do batizado, este é o sinal de que ele está progredindo na vida nova recebida de Cristo, é a fonte que determinará a sua vida cristã.
O Batizado é incorporado à vida Divina, ou seja a graça de Deus. Desde o seu batismo, o homem e mulher vivem livres do pecado original, nascem para uma vida nova, se tornam filhos de Deus, membros do Cristo, templos do Espírito Santo, incorporados à Igreja, colaboradores do sacerdócio de Cristo. Portanto, vive uma vida revestida da Graça de Deus.
Somos chamados à comunhão com a vida de Deus, ou melhor, Deus nos comunica a sua vida para com Ele termos comunhão e trilharmos o caminho da santidade, fruto maior da graça de Deus em nossa vida.
É preciso que entendamos que pela graça de Deus nós somos justificados, salvos, e que é esta mesma graça, que irá nos convocar à participação da vida divina e irá nos possibilitar uma vida nova aqui na terra, que já é de algum modo para nós antecipação do céu.

2. O Pecado
Infelizmente, somos pecadores, e o pecado faz parte da nossa realidade humana, e ao nos corromper nos afasta da graça de Deus.
No Catecismo da Igreja, dentre muitas definições do que é o pecado, encontramos as seguintes, (Cf. CIC 1849-1850):
  • Falta contra a razão, a verdade e a consciência reta;
  • Falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa do apego a certos bens;
  • Ofensa à natureza e solidariedade humana;
  • Contraposição à lei de Deus;
  • Ofensa a Deus (Cf. Sl 51,6);
  • Contraposição ao Amor de Deus por nós;
  • Desvio dos nossos corações em relação a Deus;
  • Desobediência;
  • Desprezo de Deus;
  • Desprezo da Salvação;
  • Abuso da Liberdade que Deus nos deu (Cf. CIC 385-387)
Portanto, o pecado é um mal gravíssimo (Cf. CIC 1488), que nos afasta de Deus e nos impede a comunhão com os irmãos, trazendo conseqüências gravíssimas e muitas vezes avassaladoras à nossa vida e a dos nossos irmãos.
Percebemos neste ponto algo delicado: o pecado faz parte da realidade do homem, ele tem de conviver com este estigma durante toda a sua vida. O que fazer? Em primeiro lugar é preciso a consciência e o reconhecimento de que é pecador, limitado e ainda fraco, e sobretudo, pedir que a graça de Deus venha em seu auxilio, e o fortaleça para que lute contra o pecado, para que não se deixe dominar pelos instintos e procurar assim viver ao máximo “debaixo” da graça de Deus.
Ora, certamente todos nós iremos cair diversas vezes durante a nossa vida, por conta do pecado. Mas, nisto consiste a luta diária que travamos: em cair e levantar. É preciso lutar com as armas da fé e da graça, uma luta que será diária, que exigirá o nosso esforço, e sobretudo a participação na Eucaristia, na Confissão regular e na mudança de atitudes. Tudo isto, para que permaneçamos sempre na graça de Deus.

II – O Purgatório, o Céu e o Inferno.

Após refletirmos sobre a Graça de Deus e o pecado, voltemos a um dos primeiros pontos desta nossa reflexão.
O modo como vivemos, nos portamos e nos relacionamos com estas duas realidades, a realidade da graça de Deus e a realidade do pecado em nossas vidas, irá identificar o caminho que nós trilharemos aqui na terra, que antecipará a realidade que viveremos na eternidade.
Certamente todos nós que cremos em Deus, e professamos a fé cristã – no nosso caso à fé católica – queremos morar um dia no céu. No entanto, o fator determinante para isto, friso mais uma vez, está em como vivemos aqui, na nossa relação com Deus e sua graça e no nosso comportamento em relação aos irmãos.
A Igreja nos ensina que a eternidade se dá em três estágios ou realidades distintas que chamamos de Purgatório, Céu e Inferno.

3. O purgatório
(CIC 1030-1032; 1472)
Tendo refletido um pouco sobre o pecado, o Catecismo da Igreja, nos ensina que é preciso admitir que o pecado tem uma dupla conseqüência. Sabemos que o pecado se classifica em pecado grave e pecado venial. Pois bem, o pecado grave nos priva da comunhão com Deus, nos tira do estado de graça, e nos torna incapazes da vida eterna – o que chamamos de “pena eterna” do pecado. Porém, todo pecado, mesmo os menos graves ou veniais, como chamamos, mesmo após ter obtido o devido perdão sobretudo, por meio da Confissão, e também por meio da Eucaristia e Obras de Caridade, acarreta certo apego prejudicial aos homens e mulheres que exige purificação.
Em outras palavras, quando pecamos, abrimos em nós e nos outros, algumas feridas, que são curadas por meio do perdão de Deus confiado ao ministério da Igreja, a ferida se cura, mas permanece a cicatriz, o que chamamos de “pena temporal” do pecado. É necessária a purificação quer seja em vida, por meio das indulgências que a Igreja concede, quer após a morte, no estado em que chamamos de Purgatório.
Estas penas não devem ser interpretadas como “vingança de Deus” porque o desobedecemos e o ofendemos por meio do pecado, mas, devem ser vistas como conseqüências da própria natureza do pecado. Ao conhecer isto, devemos nos motivar à conversão sempre, lembrando-nos de que a misericórdia de Deus é bem maior do que podemos imaginar.
A Igreja vai explicitar isto tudo na Doutrina do Purgatório da seguinte forma: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.” (CIC 1030).
Apoiada nesta Doutrina está também a prática de oração pelos defuntos, já prevista no Antigo Testamento (Cf. II Mc 12,46) onde se oferece sufrágios por meio das esmolas, indulgências, obras de penitência e sobretudo pelo sacrifício eucarístico por sua purificação para que cheguem à visão beatífica de Deus, ou seja, o Céu.

4. O céu
(CIC 32; 954-959; 962; 2053; 2796)
Todo aquele que ama os preceitos de Deus, e o segue nesta terra, deseja ardentemente se encontrar face a face com Deus no Céu, e ali viver a Vida Eterna. Pois bem, o céu é antes de tudo uma realidade totalmente distinta desta em que vivemos, sem tempo, nem dias, onde tudo e todos se encontram unicamente em Deus. Deus mesmo é o Céu, podemos afirmar.
O Céu é um tesouro dado por herança a todos nós (Cf. Mt 13,44-46). Para possuí-lo é necessário o seguimento de Jesus, estar atrás de seus passos e compreender que este não é um dom infuso – com o qual já se nasce – mas que têm que ser adquirido, mediante o seguimento do Cristo, como já falamos e também mediante a nossa postura e as nossas escolhas nesta vida.
A realidade do céu, vai muito mais além do que aquilo que a inteligência humana pode pensar, é muito mais do que “olharmos para cima”, ela compreende um dos grandiosos mistérios para a fé e também para a inteligência humana. Professamos segundo a nossa fé que Ele existe, e aguardamos o dia em que nele ingressaremos.
E enquanto este dia não chega, precisamos estar cientes de que a Igreja nos une a tal realidade no sentido de que formamos uma só Igreja no céu e na Terra, em comunhão, manifestada em três estados distintos: A Igreja da Terra formada pelos peregrinos (Militante); A Igreja do Purgatório formada pelos que estão sendo purificados (Padecente); e a Igreja do Céu formada pelos gloriosos (Triunfante). O Catecismo nos ensina que todos nós, independente do grau em que nos encontramos na Igreja, unidos, cantamos o mesmo hino de glória ao nosso Deus, pois todos nós pertencemos a Cristo, temos o seu Espírito e congregamos uma só Igreja, onde unidos declaramos a vitória de Deus e sua glória!
Nesta realidade que se chama Céu, contamos com a intercessão dos santos, em comunhão com eles e com os irmãos falecidos, formando assim uma única família de Deus, reunida diante do seu Trono Eterno.
A vivência do céu, deve portanto começar já aqui na terra, porque somos cidadãos dos céus! (Cf. Lucas 12,31-34; Ef 2,19).

5. O Inferno
(CIC 1033-1037; 1861)
Só pode estar unido a Deus quem faz a opção livre de amá-lo, e quem se volta gravemente contra Ele, contra o próximo ou conta si mesmo não o ama, pois com estas atitudes está pecando. Jesus nos adverte que dele seremos separados se não formos de encontro às necessidades dos pobres e pequenos seus irmãos e nossos também (Cf. I Jo 3,14-15). Portanto, morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado de Deus para sempre, por opção livre. É este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus pelo qual se designa a palavra “inferno”.
O inferno é a ausência de Deus, assim como o pecado e o mal.
O inferno existe e é eterno, é o local onde permanecem as almas que morrem em estado de pecado mortal e que se negaram o arrependimento e a misericórdia de Deus. A pena principal do “fogo eterno” é a separação eterna de Deus, o único de onde provém a vida e a felicidade eterna.
Quando a Igreja se pronuncia ou ensina sobre o Inferno, ele não quer fazer uma pregação proselitista do assunto, mas na verdade, está a chamar todos e cada um à responsabilidade com a qual o homem deve usar a sua liberdade em vista do seu destino eterno ou fim último, e também anuncia um apelo insistente à conversão, para que não se perca nenhuma ovelha do rebanho.
Deus de modo algum predestina ninguém ao Inferno, para isto é necessário que voluntariamente o homem se afaste de Deus, tenha aversão dele, e assim persista até o fim. O desejo de Deus é que o homem deseje a vida eterna e não a morte eterna, e Ele faz o possível para que nenhum se perca, no entanto, quem deseja e escolhe não é Deus, mas sim o homem, que tendo em vista o seu fim ultimo, pelos caminhos que trilhar, e pelas opções feitas durante a vida terrena, irá escolher se quer ter como prêmio final a vida eterna e a Visão de Deus, ou a Morte Eterna e a Perdição infinita.

A Nível de conclusão...
Depois de toda esta explanação, não podemos concluir senão de outro modo, afirmando que somos “chamados para a Vida Eterna, constituídos assim como filhos e filhas da Graça” e que Deus em sua Misericórdia Infinita nos livre da Perdição Eterna.


Texto elaborado para a Catequese junto ao grupo de Crisma 
Paróquia Todos os Santos. Embu, 16 de Maio de 2009.

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