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sexta-feira, 6 de março de 2009

Esperar no Senhor e se reconciliar com os irmãos

1. Diante de nossa realidade pecadora, o salmista numa oração dirigida ao Pai das misericórdias nos consola: “Se levardes em conta as nossas faltas, quem haverá de subsistir?” (Sl 129 (130), 3). Trata-se daquela velha e sempre nova novidade de que Deus não se importa com o nosso pecado, mas, sim com o nosso coração que, consciente de ter pecado, se inclina à sua misericórdia, pede perdão e se levanta como um coração novo cheio da sua graça.
Quando pecamos, de certa maneira “morremos”, e o caminho de volta à vida, ou a “ressurreição” é o arrependimento. O arrependimento dos pecados traz o pecador de volta à vida. (Cf. Ez 18,28). E sem dúvida é este o desejo de Deus, ver homens e mulheres, filhos e filhas seus mudando de vida e de conduta, se libertando dos laços da morte e do pecado e voltando a viver debaixo de sua graça (Cf. Ez 18,23b).
2. Somente em Deus se encontra o perdão, continua a nos consolar o salmista (Cf. Sl 129(130), 4).
O homem fragilizado pelo pecado só pode encontrar força e alento e mais do que isto, o perdão para os seus pecados em Deus, fonte eterna de vida, misericórdia e perdão.
Falando assim, parece até fácil o processo para receber o perdão de Deus: “Pecamos, nos aproximamos de Deus e pedimos perdão e Ele nos perdoa”. Mas, e a luta que se trava antes disto?
De fato, o homem vive dia após dia uma luta constante, consigo próprio, uma vez que é configurado por limitações e fraquezas que o leva a pecar contra si, contra os irmãos e contra Deus. Tal luta se dá em seu coração, é a luta entre o bem e o mal, que influencia nas escolhas e nas opções do homem.
Deus não quer a morte do pecador, mas sim que ele viva. No entanto, as suas escolhas vão definir se ele vive ou se ele morre. O homem tem a liberdade de escolher entre o bem e o mal, entre o pecado e a graça, no entanto, somente a escolha pelo bem é que o fará verdadeiramente livre!

3. O homem que espera no Senhor sabe lidar bem com isto, mesmo em meio a luta, que pode lhe dar tanto vitórias como derrotas, o homem que espera no Senhor em todas as situações de sua vida, e, sobretudo nas situações de pecado, permanece firme, inabalável, porque colocou a sua confiança não em homens ou coisas deste mundo, mas, no próprio Deus, como continua a nos falar o salmista: “No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. A minh´alma espera no Senhor mais que o vigia pela aurora. Espere Israel pelo Senhor, mais que o vigia pela aurora! Pois no Senhor se encontra toda graça e copiosa redenção”. (Sl 129(130), 5-7)
É preciso esperar no Senhor, nele se encontra toda a graça e perdão!

4. Gostaria neste ponto, de desviar nossa reflexão para o nosso relacionamento com os nossos irmãos e irmãs.
Bem sabemos que muitas vezes pecamos contra o nosso próximo, e a meu ver pelo menos, isto é algo muito delicado, uma vez que nos apresentamos diante de Deus, e em geral estamos com alguma “pendência” com algum irmão ou irmã e “fingimos” que nada está acontecendo e que está tudo normal em nossa vida!
Questiono: Adianta se colocar diante de Deus de coração aberto à sua misericórdia, consciente de que nós erramos, e assim ter confiança e esperar nele a sua graça e favor, sem vivermos em paz com os irmãos? Não seria hipocrisia da nossa parte? Aliás, Deus sonda e conhece todos os corações!
Como é difícil perdoar! Mais difícil é se reconciliar com aqueles com os quais temos faltas; E se torna mais difícil quando nós é que somos os responsáveis por estas faltas; E bem pior é quando o nosso orgulho não nos deixa aproximar do irmão ou irmã que atentou contra nós!

5. Jesus nos convida a nos reconciliar com os nossos irmãos (Cf. Mt 5,20-26).
Convite delicado o de Jesus! Trata-se de um processo longo, demorado, talvez para a vida toda, porém, processo que é necessário. Para iniciá-lo é preciso iniciativa, abertura da nossa parte, por meio da oração e da proximidade com estes irmãos e irmãs que nos feriram ou que nós ferimos. É preciso quebrar o nosso orgulho, a nossa arrogância!
Detrás deste convite de Jesus, está na verdade um convite mais sublime: moldar-nos conforme o seu coração que é manso e humilde, que ama a todos, sem fazer distinção de ninguém!
É um desafio que o próprio Senhor nos lança.
E diante desta realidade: Aceitamos ou não o desafio? A resposta só o tempo, a Espera no Senhor e a nossa iniciativa nos dará! Enquanto não podemos responder, que possamos ter a consciência de que somos chamados a ser um Povo de Reconciliados, moldado conforme o coração do nosso Pastor!
Só assim terá sentido nos reunirmos diante do Altar do Senhor para celebrarmos a Eucaristia, como um povo de reconciliados, que recebe e dá o perdão e vive debaixo da graça misericordiosa de Deus! (Cf. Mt 5,23-24)

Paróquia Todos os Santos (Matriz - Com. Santa Emília)
Texto escrito em 06.03.2009 
para a Celebração da Sexta feira da 1ª. Semana da Quaresma
Primeira Sexta Feira do Mês (Sagrado Coração de Jesus)

Obs: Imagem retirada de http://ssacramento.blogs.sapo.pt/9199.html

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