"Senhor, tua Palavra é luz no meu caminho e lâmpada para os meus pés! Creio que por meio da tua Palavra o Universo se formou; Creio que por meio da Tua Palavra a terra se firmou; Creio que Tua Palavra, o Verbo Eterno, se encarnou em nosso meio: Jesus, és a Palavra Viva de Deus Pai, Palavra que permanece viva em nosso meio, e continua a ser inspirada e renovada pelo Santo Espírito. Tudo pode passar, as ervas podem secar, as folhas podem cair, o céu e a terra passar, mas, tua Palavra meu Deus, jamais passará. E enquanto eu viver quero emprestar minha voz a Ti para que continueis falando ao coração dos homens e mulheres deste tempo! Fala-me Senhor, fala em mim Senhor, fala por mim Senhor!"

domingo, 5 de agosto de 2012

Viver de fé


Apesar da infidelidade e falta de dignidade dos homens, Deus é aquele que sempre mantém seus compromissos, pedindo ao homem que confie nele. Deus pede a colaboração do homem, dando-lhe como condição de salvação uma fé absoluta em sua palavra. 
Isaias nos narra um confronto entre Acaz, rei de Judá e o rei Rason da Siria e Facéia, rei de Israel (Cf. Is 7,1-9). Quando há guerra, há vitória. Os fiéis de ambas as partes rogam a Deus a vitória. Porém, só um lado pode sair vencedor, o outro lado acaba sentindo-se rejeitado por Deus ou se revolta por não ter sido atendido. 
O mesmo acontece em tantas peripécias humanas, quando se considera Deus como “um poderoso ao nosso serviço”, que basta invocar para que venha em nosso auxílio, curando-nos as doenças ou resolvendo conflitos e tensões que se dão nos mais vastos campos de relacionamento humano. 
Aqui a fé se configura como “barganha”, mas não é esta a fé que Deus exige. Jesus nos ajuda a entender o que é a fé com absoluta certeza quando nos ensina: “Buscai e achareis, batei e ser-vos-á aberto” (Cf. Mt 7,7). Jesus nos mostra que a fé é um abandono total e filial nos braços do Pai, é confiança em seus planos, que são sempre planos de amor, que preveem sempre o melhor para nós, mesmo quando ele permite as borrascas e derrotas, como a que estava para desabar sobre o povo no tempo de Isaías. 
Tudo isso porque Deus prova para purificar. A nós neste processo cabe aprendermos a viver de fé e aprendemos a orar com confiança. 

A fé é dom de Deus e não pode ser repelida. Um dia, afirmou Jesus aos fariseus que ser “filho de Abraão” é uma responsabilidade, mais do que motivo de orgulho (Cf. Jo 8,39). Ou seja, o que conta não é “ser filho de Abraão”, mas viver como filho de Abraão, imitando-lhe as virtudes, sobretudo sua fé. 
O mesmo pensamento é expresso sobre a censura que Jesus faz às cidades onde havia realizado muitos milagres, porque não haviam se convertido (Cf. Mt 11,20-24). Esta censura interessa também à nossa condição: o que conta não é ser membro da Igreja e formar parte do povo de Deus, mas viver como membros da Igreja e como filhos de Deus. 
Mesmo assim, a má conduta dos homens não evitará a condenação, à semelhança das antigas cidades. É preciso a consciência de que é bem maior a responsabilidade dos cristãos nos tempos atuais. Aquelas cidades, punidas por seus muitos pecados, não tiveram a possibilidade de se beneficiar com os prodígios da ação salvífica de Deus, como a temos nós, filhos e filhas do novo povo de Deus através dos sacramentos da Igreja. 

A Palavra de Deus nos impõe um sincero exame: Contentamo-nos com “ter” a fé ou nos esforçamos por “vivê-la”? 
Que o Senhor nos ajude a ter uma fé enraizada em sua Palavra e um compromisso autêntico com a Igreja mediante a fé que recebemos no Batismo. 

Sem. Rodolfo Marinho de Sousa 
Terça Feira da 15ª. Semana Comum – Ano Par. 17.07.2012 (Memória do Bem Aventurado Inácio de Azevedo e Companheiros Mártires)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sacramento do Matrimônio


1. Existem na Igreja sete Sacramentos. Sacramento é o mesmo que sinal, e cada um dos sete foram instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo: Batismo, Confirmação ou Crisma, Eucaristia, Penitência ou Reconciliação, Unção dos Enfermos, Ordem e o Matrimônio. Os sete sacramentos estão dispostos de uma forma que atinja todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão; por isso a tríplice divisão: Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia); Sacramentos de Cura (Penitência e Unção dos Enfermos); e, os Sacramentos do Serviço e da Comunhão (Ordem e Matrimônio). 
Os Sacramentos da Iniciação Cristã fundam a vocação comum de todos os discipulos de Cristo, que consiste num chamado à santidade e à missão de evangelizar o mundo. O Catecismo da Igreja nos diz que eles “conferem as graças necessárias à vida segundo o Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria” (CIC 1533). Em outras palavras, eles conferem a salvação. 
Os Sacramentos da Comunhão e do Serviço também se destinam a salvação, ainda de modo pessoal, porém, através do serviço aos outros, pois eles conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus. Pela Ordem e pelo Matrimônio, àqueles que já foram consagrados a Deus, podem receber consagrações específicas: os que recebem o sacramento da Ordem são consagrados para serem Pastores da Igreja; os esposos cristãos que recebem o sacramento do matrimônio tem a missão especial de edificar o Povo de Deus através de sua consagração e deveres familiares. 
Iremos dar especial atenção nesta presente reflexão ao Sacramento do Matrimônio. 

2. O Catecismo da Igreja quando trata do mesmo, inicia com as seguintes palavras: “A Aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão de vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação dos filhos, e foi elevada entre os batizados, à dignidade de sacramento, por Cristo Senhor.” (CIC 1601) 
Pois bem, na Sagrada Escritura nota-se bem claro que o matrimônio está no desígnio de Deus, uma vez que ela abre-se com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus (Cf. Gn 1,26-27) e se fecha com as “núpcias do Cordeiro de Deus” (Cf. Ap 19,7.9). “De um extremo a outro, a Escritura fala do casamento e de seu "mistério", de sua instituição e do sentido que lhe foi dado por Deus, de sua origem e de seu fim, de suas diversas realizações ao longo de história da salvação, de suas dificuldades provenientes do pecado e de sua renovação "no Senhor" (1Cor 7,39), na nova aliança de Cristo e da Igreja” (CIC 1602) 

3. A vocação para o matrimônio está na natureza do homem e da mulher, ao passo que não se trata de algo simplesmente humano, mas algo grandioso que tem a iniciativa no próprio Deus, que, ao criar o homem por amor, também o chama para o Amor. 
Deus cria homem e mulher, e o amor mútuo que nasce entre estes dois é imagem de um amor absoluto de Deus pelo homem, por isso é um amor “muito bom” aos olhos de Deus, que o abençoa e o destina a ser fecundo: “Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). 
Estamos falando de um amor que une duas vidas: “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Cf. Gn 2,18-25). A expressão “uma só carne” representa a perfeição desta união. 

4. O primeiro sinal de Jesus é operado em uma festa de casamento, as “Bodas de Caná” (Cf. Jo 2,1-11). A Igreja vê na presença de Jesus nesta festa de casamento “a confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, o casamento será um sinal eficaz da presença de Cristo” (CIC 1613). 
De fato, é o Cristo Jesus que reafirma que a união entre homem e mulher é indissolúvel, pois é Deus quem a consuma: “O que Deus uniu, o homem não deve separar” (Mt 19,6). Outrora, Moisés havia permitido o repúdio da mulher por conta da dureza de coração do Povo de Deus. Jesus vem para restaurar a ordem original: no principio não havia repúdio ou divórcio, por isso a afirmação de que tal união entre homem e mulher é indissolúvel. 
Esta afirmação de Jesus vem de encontro à relação que Ele tem com a sua Igreja. Desde esta fala de Jesus podemos ver no matrimônio o mesmo Amor que Cristo tem pela sua Igreja, por nós, filhos e filhas pelo Batismo. Por isso a recomendação de São Paulo aos maridos para que amem as suas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (Cf. Ef 5,25-26). De fato, toda a vida cristã traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja, e é por isso mesmo que o “Matrimônio cristão se torna, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja” (CIC 1617) 

5. Diferente dos outros sacramentos, os ministros da celebração do matrimônio são os próprios esposos, que batizados e livres expressam livremente seu consentimento. A troca do consentimento é indispensável para que o matrimônio aconteça, pois ele constitui um ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem mutuamente: “Eu te recebo por minha mulher”... “Eu te recebo por meu marido”... O consentimento liga os esposos entre si, fazendo-os “uma só carne”. A quem assiste o matrimônio (sacerdote, diácono, testemunha qualificada) em nome da Igreja acolhe o consentimento dos esposos e lhes dá a benção da Igreja e de Deus. As testemunhas presentes indicam que o casamento é mais que uma formalidade e um rito, é uma realidade eclesial, ou seja, cria direitos e deveres na Igreja, entre os esposos e o tocante à prole que nascerá desta união. 
"Do Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo e exclusivo; além disso, no Matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados por um sacramento especial aos deveres e à dignidade de seu estado." (CIC 1638) 

6. Deus agracia o sacramento do matrimônio destinando assim a aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a fortificação da sua unidade indissolúvel, a santificação da vida conjugal e a aceitação e educação dos filhos. 
"O amor conjugal comporta uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa apelo do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da vontade; O amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se à fecundidade. Numa palavra, trata-se das características normais de todo amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e as consolida, mas eleva-as, a ponto de torná-las a expressão dos valores propriamente cristãos." (CIC 1643) 

7. Por fim, em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e hostil a fé, as famílias cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. O sacramento do matrimônio é para a Instituição “família”, e a família deve ser “Igreja doméstica”, pois é no seio da mesma que os pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo os primeiros mestres da fé. O lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé, por isso deve ser comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã. (Cf. CIC 1656.1666)

Sem. Rodolfo Marinho de Sousa

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Provação, Trigo e Joio

O Povo de Deus estava sendo atormentado pela seca que devastava o país de Israel e pela guerra que ameaçava a sua segurança política. Neste cenário se encontra o profeta Jeremias que está inteiramente sozinho entre a súplica do povo que insiste arrependido do seu pecado e a ardente justiça de Deus. A oração de Israel é humilde e procura obter a benevolência de Deus, reafirmando que somente Ele é Deus, renunciando a idolatria e voltando atrás na Aliança entre Deus e o povo. Neste momento somente o apelo confiante à misericórdia de Deus Criador é a única esperança do povo (Cf. Jr 14,17-22). 
O Povo de Israel se encontra em uma situação de calamidade. Em casos de calamidade quais são as atitudes tomadas? Há aqueles que ficam quase indiferentes a situação. Há outros que se agarram com Deus. Há também aqueles que duvidam da existência de Deus ou do seu amor, caso ele exista. Outros se questionam se Deus não se compraz ao ver a dor e sofrimento dos seus. Há ainda aqueles que suplicam a Deus, mas não de modo sincero, procurando somente o seu interesse pessoal e material. Por fim, existem aqueles que semelhantes ao Povo de Israel, reconhecem haver pecado e pertencer a uma humanidade pecadora, e vê na prova não o castigo, mas a purificação e a Presença de Deus. 
A provação faz voltar a Deus, confiar em sua aliança e em suas promessas; faz pedir perdão e esperar em sua providência. Nós precisamos aprender a reconhecer os nossos pecados, a confessa-los a Deus, que é Pai, através do Sacramento da Penitência, pelo qual a Igreja nos oferece o perdão divino, confiantes de que se o nosso coração ou consciência nos reprovar, “Deus é maior que o nosso coração” (Cf. 1Jo 3,19s). 


Na Parábola do joio e do trigo (Cf. Mt 13,36-43), encontramos o semeador divino e o semeador maligno. Um traz consigo os herdeiros do Reino de Deus, o outro um exército de adeptos das coisas que não agradam a Deus e seus filhos. Nesta parábola lemos a história humana, dividida em dois exércitos opostos. Jesus insiste na descrição do juízo, no qual Ele purificará a sua Igreja de todo mal. O cristão deve ser trigo e não joio. 
Deus é paciente. Se Ele fosse intolerante, o que seria de nós? Ele não é intolerante, mas não pode acolher o mal, por isso o repele. Ele detesta o pecado, mas ama o pecador que se arrepende de coração e quer mudar de vida, mas não pode amar e nem acolher aqueles que se identificam e se entregam ao mal, aqueles que se corrompem por causa do pecado. 
Porém, a última palavra é sempre de Deus, o que constitui uma imensa esperança para todos nós, principalmente para aqueles que são oprimidos pelo mal, mas a Ele aderem; e também uma severa advertência para aqueles que oprimem e são discipulos do mal. O joio oprime e suga o grão bom. Na parábola o Reino é personificado naqueles que aceitam a paternidade de Deus, e o mal é personificado naqueles que o praticam obstinadamente. 
Na realidade atual em que vivemos devemos distinguir com coerência o grão do joio do grão de trigo. Este é um risco muito grande que corremos, principalmente quando nos colocamos a julgar o que é bom e o que é mau ou quando respondemos com a intolerância e a impaciência aqueles que são discipulos do mal ou que o fazem mesmo inconscientemente. Postura de juiz não nos ajuda em nada em nossa conversão. A paciência de Deus que sabe separar o trigo do joio estimula à conversão. 
Devemos entrar na dimensão da “paciência de Deus” e assim vivermos a nossa conversão diária, lutarmos contra as tentações e investidas do mal, certos de que o mal atormentará somente aqueles que o buscarem ou quiserem e afastá-los para sempre de Deus numa decisão bem clara e consciente, ao passo que o bem e a vontade de Deus tornará seus filhos luminosos como Ele e com Ele para sempre.

Sem. Rodolfo Marinho de Sousa

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

No peito eu levo uma Cruz, no meu coração o que disse Jesus!

O Senhor Jesus nos amou até o extremo, num amor sem dimensões inimagináveis, manifestado em um instrumento no mínimo contraditório: uma cruz. O que era instrumento de suplício, dor, sofrimento e morte, se tornou para nós instrumento de salvação. 

“A prática antiga da crucifixão é, sem dúvida, de origem persa; utilizaram-na em primeiro lugar os bárbaros como castigo político e militar para pessoas de alta categoria. Depois, os gregos e os romanos a adotaram. No império romano era geralmente precedida da flagelação e o condenado carregava ele pró­prio o pau transversal até o lugar do suplí­cio. A crucifixão tinha variantes diversas: a cruz podia ser um simples pau erguido, ter a forma de um tau grego, fixando-se o pau transversal em cima do pau vertical, ou de uma forca de dois paus, ou ainda seguir a forma da cruz latina com o pau horizontal metido mais profundamente no vertical. Um letreiro indicava o motivo do suplício. O con­denado podia estar totalmente nu, de cabeça para cima ou para baixo, às vezes pregado, com os braços estendidos. Este suplício só era utilizado para as classes baixas da socie­dade e para os escravos. Normalmente a ele não estavam sujeitos os cidadãos romanos, a não ser que a gravidade de seus crimes os houvesse levado a serem considerados me­recedores de se verem privados de seus di­reitos cívicos. Aplicava-se também aos estran­geiros sediciosos, aos criminosos e aos ban­didos, por exemplo, na Judéia por ocasião das diversas agitações políticas. 
Á crueldade própria do suplício da cru­cifixão - que dava livre curso a muitos gestos sádicos - correspondia seu caráter infamante, escandaloso e até "obsceno". O crucifi­cado se via privado de sepultura e era aban­donado aos animais selvagens ou às aves ferozes. “a morte na cruz é a infâmia suprema”, escreve Orígenes. Por isso, a ela se atribuía grande poder de dissuasão. Era quase que uma forma de sacrifício humano. A ninguém ocorreria encontrar alguma dignidade em quem padecia seus so­frimentos com coragem (...) Estas poucas observações ajudam a compreen­der a força da "loucura" e do "escândalo" da cruz, que os cristãos apresentavam como mensagem de salvação”. (Dicionário Teológico, o Deus cristão, p.203) 

Com a morte de Cristo, a Cruz ganha um novo sentido, deixa de ser objeto de morte e passa a ser objeto de vida, de salvação, a manifestação do amor incondicional de Deus por nós: “De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 
Ao contrário do que se pensa ou pareça, ninguém tira a vida do Cristo Jesus, Ele a entrega generosa e livremente. Na cruz o Senhor derrama o seu amor, e quanto amor se derrama na Cruz! 
Como não se comover diante de tanto amor? Como não dar uma resposta de amor e fidelidade àquele que se sacrifica de tal forma por cada um de nós, de modo pessoal, único e extraordinário? 
No fundo o que nos chama a atenção não é a Cruz em si, mas aquele que nela foi crucificado. Ela é instrumento, o cenário do abandono do Cristo aos planos do Pai, que diante da obscuridade do Calvário, realiza a salvação de todos, confirmando que a morte de Jesus não é um fim certo, mas a confirmação inaudita de sua glória: “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32) 
Sim! Ele atraiu a todos com sua Cruz, por isso ela é sinal da nossa fé, da nossa vitória e da certeza de que Ele, o Cristo Senhor, está vivo entre nós. A resposta que damos na Liturgia reafirma e renova esta certeza de que Ele está perto de nós, “no meio de nós!”. Esta é a certeza da nossa fé, de que a Cruz, a morte, o sepulcro, não puderam parar ou deter o Salvador, Ele ressuscitou e nós reverenciamos a sua Cruz como sinal desta vitória e do estupendo amor por nós! 

De fato, a cruz é central na mensagem cristã e acabou se tornando “Simbolo do Senhor”, e objeto de culto. Nos primeiros séculos do cristianismo, ela foi pouco representada por conta da ideia de suplicio e sofrimento que trazia. No século III, uma vitória de Constantino ligada à visão que ele teria tido da Cruz de Cristo, difunde a imagem da Cruz no império romano, e a mesma passa a ser vista como “sinal de vitória”. Diante da crise iconoclasta no Oriente, a cruz é considerada o único motivo representável. No século XII, a Cruz começa a ser chamada de “árvore da vida”. 
O fato é que os primeiros cristãos e os que vieram depois começaram a representar a cruz, primeiramente sozinha e às vezes com o crucificado, sem intenção realista, mas para celebrar seu valor salvífico. Definitivamente a Cruz deixa de ser objeto de morte e passa a ser gloriosa e triunfal, esplêndida, embora o Ocidente na Idade Média comece a representar dolorosamente o crucificado. 
Santa Helena teria descoberto “a verdadeira cruz” (a mesma que Cristo foi crucificado) no século IV, fato que contribuiu para que se desenvolvesse o culto e a devoção à Santa Cruz na Igreja. Data desta época a introdução da adoração da Cruz na Liturgia da Sexta Feira Santa. Na Idade Média a devoção à Paixão e Morte do Cristo ganha força, aqui nasce a via-sacra, que chega à forma definitiva no século XVII. 
Ordens religiosas como os passionistas se consagraram ao mistério da Cruz. A Liturgia desenvolve durante o ano as festas da cruz do Senhor. O sinal da cruz sempre foi e o é ainda hoje o sinal que o cristão traça sobre si mesmo, invocando a Trindade; é chamado inclusive o “sinal da nossa salvação”, pois bem, a Cruz é sinal da salvação e não a salvação em si, ela foi instrumento da salvação, a salvação é o Cristo Jesus e somente Ele. 

Graças a este desenrolar da História é que hoje temos em nossas casas, mesas de estudo e escritório o crucifixo, e o carregamos também sobre os nossos peitos. Uma antiga canção entoa no seu refrão: “No peito eu levo uma cruz...” Sim, hoje carregamos em nossos peitos a Cruz, este sinal de salvação e amor de Deus por nós. A pergunta é: Temos consciência do compromisso que implica levar este sinal?”. A música continua: “...no meu coração o que disse Jesus...”: A mensagem da Cruz fala ao nosso coração? Ela faz diferença na nossa vida ou simplesmente é um amuleto, um sinal externo que carregamos? 

A cruz que o cristão carrega necessariamente tem um peso. 
Conta uma estória que um homem julgava sua cruz muito pesada. Fazia a jornada da vida, entre os demais, carregando de má vontade os próprios problemas. Pensou muito em como amenizar o fardo e, um dia _ eureca! _ descobriu que podia serrar um pedaço da sua cruz. Isso o satisfez por certo tempo, até que, de novo decidiu: 
- Por que não facilitar a vida? Sou livre, para fazer o que bem entendo com a minha cruz! 
E, ligando a intenção ao ato, serrou mais um pedaço. Os anos passaram e muitos pedaços foram cortados. Por fim, o homem levava uma minúscula cruz. Chegando ao término da viagem, pararam, todos à margem de uma vala. No lado de lá, apareceu um Anjo que deu boas vindas a todos e instruiu: 
-Deponham suas cruzes sobre a vala. É a medida exata para servir de ponte para cá. Mas cada um só pode atravessar pela própria cruz... 
O homem olhou a largura da vala, comparou com sua pequena cruz e olhou para o Anjo. Mas, esse lhe disse: 
- É, pena! Você deve voltar juntar todos os pedaços serrados, emendá-los e trazer a cruz inteira, a seu termo." 

Cristo quis dividir o peso de sua cruz. 
O convite do Evangelho é para que o discípulo “leve sua cruz” com o Mestre: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a salvará”. (Lc 9,23-24). É um chamado dirigido a todos, pois levar a cruz é algo necessário para quem quer seguir Jesus, e exige renúncia a si mesmo. 
A cruz conduz “a perder a vida”, não mais no sentido de suplicio, porém, no sentido que Jesus deu à sua vida e a sua morte, para estar com Jesus é necessário com ele ser crucificado: “Estou crucificado com Cristo e não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. (Cf. Gl 2,20) 
Quando o cristão é “crucificado com Cristo”, ele entende a realidade da salvação que é a entrada na morte e na ressurreição de Cristo (Cf. Rm 6,1-11), e depois pensa nesta salvação recebida no batismo à qual é preciso corresponder com o testemunho vivo e encarnado, experenciado na Paixão, Morte e Ressurreição do Salvador. 

“Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me” (Lc 9, 23). 
Não pensemos que, por estarmos neste mundo, podemos viver ao seu sabor como um peixe na água. Não pensemos que, pelo fato de o mundo nos entrar em casa através de certos programas de rádio ou da televisão, nos seja permitido ouvir todos os programas e ver todas as transmissões que fazem. Não pensemos que, por andarmos pelas estradas do mundo, podemos olhar impunemente para todos os cartazes e comprar no quiosque ou na livraria, indiscriminadamente, qualquer tipo de publicação. Não pensemos que, por estarmos no meio do mundo, podemos imitar e assumir os modos de viver do mundo: experiências fáceis, imoralidade, aborto, divórcio, ódio, violência, roubo. Não, não. Nós estamos no mundo. E isso é evidente. Mas não somos do mundo. “Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como eu não sou do mundo” (Jo 17,14) 
E isso implica uma grande diferença. Classifica-nos entre aqueles que não se alimentam das coisas mundanas e superficiais, mas das que nos são expressas, dentro de nós, pela voz de Deus que está no coração de cada pessoa. Se a escutarmos, faz-nos penetrar num reino que não é deste mundo. Um reino onde se vive o amor verdadeiro, a justiça, a pureza, a mansidão, a pobreza. Onde vigora o domínio de si mesmo, onde ganha sentido pleno o que cantamos: “No peito eu levo uma Cruz, no meu coração o que disse Jesus”. 
Cristo nos disse: «nega-te a ti mesmo… nega-te a ti mesmo…» 
A vida cômoda e tranquila não é para o cristão. Se quisermos seguir Cristo, ele não pediu nem nos pede menos do que isto: Renúncia. 
O mundo invade-nos como um rio na época das cheias, e nós temos que ir contra a corrente. O mundo para o cristão é um matagal cerrado, e é preciso ver onde se põem os pés. E onde é que devemos pôr os nossos pés? Sobre aquelas pegadas que o próprio Cristo, ao passar nesta Terra, nos deixou assinaladas: são as Suas Palavras. Hoje, Ele diz-nos de novo: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo…». 
Por causa disso, a nossa cruz pesa, talvez venhamos a ser alvo de desprezo, de incompreensão, de zombarias, de calúnias. Podemos ter que nos isolar, que aceitar a desconsideração e abandonar um cristianismo de fachadas. 
Mas Jesus continua: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me». Mais uma vez ressoa em nossos lábios a certeza da canção: “No peito eu levo uma Cruz e no meu coração o que disse Jesus”. 
Quer queiramos, quer não, o sofrimento amargura a nossa existência. E, todos os dias, chegam-nos pequenos ou grandes sofrimentos. Gostarias de te livrar deles? Revolta-te? Lamentas? Então, não és cristão. É certo que as vezes também nós acrescentamos pesos desnecessários à nossa Cruz, as escolhas que fazemos e as experiências que vivemos de livre e espontânea vontade, quando não precisaríamos escolher isto ou aquilo ou viver esta ou aquela realidade. No entanto, Cristo amou a sua cruz, amou o seu sofrimento, pois Ele sabia qual seria o resultado final. O cristão autêntico também ama a cruz, ama o sofrimento, mesmo entre lágrimas, porque sabe que tem valor. Não foi em vão que, entre os muitos meios de que Deus dispunha para salvar a humanidade, escolheu o sofrimento. Mas Ele, depois de ter levado a cruz e de ser nela crucificado, ressuscitou.
A ressurreição é também o nosso destino. Se aceitarmos com amor – em vez de o desprezarmos – o sofrimento que nos vem da nossa coerência cristã e todos os outros que a vida nos traz, havemos de experimentar, então, que a cruz é o caminho, já nesta Terra, para uma alegria nunca antes experimentada: “No peito eu levo uma Cruz, no meu coração o que disse Jesus!”.

Sem. Rodolfo Marinho de Sousa
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